Os olhos abrem-se a muito custo,
Os ossos estalam, como se fossem quebrar.
E acordo, num mundo pulcro de injusto.
Ainda dormente, sem raciocinar.
Relutante e pouco decidido…
Ergo meu físico cansado de tanto descanso.
Pareço um bicho enfurecido,
Após eternidades, sendo manso.
Tédio e mais tédio, em doses mortais…
A cabeça fervilha em agonia.
Masturbação mental de desejos banais
No vasto pranto da ironia.
Estou aqui…
Vivendo o presente.
Relembrando o que já é passado,
Antevendo, temendo o futuro.
O infame momento presente
Que a meus olhos se desenrola…
Lembranças de um passado omnipresente,
E um futuro que desconsola.
Temendo a viagem inevitável de fazer,
Por entre o mar da vida comum.
Rabiscando o diário que não quero escrever
Por dias adversos de jejum.
A teimosia dos ponteiros
(ausentes no relógio digital)
São “tic-tacs”… sons de morteiros
Carrascos de meu mal.
Galopam em círculos perfeitos.
Fazendo do passado, passado.
Guilhotinas onde meus sonhos jazem desfeitos
E o presente é amaldiçoado.
Passado, presente, futuro…
Qual deles o pior?
Lá longe… onde tu estas
E onde eu nunca poderei ir,
Se esconde um mundo de alegria e paz.
Utopia, quimera… me impossível de atingir.
Nunca vi esse ambicionado lugar…
Jamais em minha vida me foi permitido o ver.
Corro em demanda para o alcançar,
O destino é certo, não vou vencer.
Existem mais que portões
A proteger esse encantado recanto.
São mil e uma aversões
E o poder sórdido do desencanto.
Vejo-me então… as voltas na distância…
Convalescendo na Impossibilidade.
Discordo de minha própria discordância,
Torturado pela saudade.
Rebenta de uma vez…
Ou coisa deteriorada presa no meu pescoço.
Estoira com rapidez…
Implode sem fazer grande alvoroço.
Culpo-te de toda a minha tristeza,
Responsabilizo-te por todo este mal-estar.
Tens uma mania de grandeza,
Sê grande de vez! E espalha-te pelo ar…
Cabeça minha, composta de imperfeição,
Infeliz acaso de minha pobre genética,
Enceta um acto de rendição,
E revolta-te de forma patética,
Contra esta tirana condição.
E não faças apelos á demência,
Arde simplesmente na tua banalidade.
Não há actos de benevolência,
Para quem não é louco ou não tem genialidade.
Olho agora, para dentro de mim…
Vendo a dor pelos meus poros a escapar.
Encurvo o corpo em sofrimento,
Finjo que não dói… nada vai mudar.
A memória arrasta até mim, memórias
Os traços de meu rosto enrijem-se,
No descobrir de minhas ideias contraditórias,
E as vontades não tidas perdem-se.
E olho á minha volta,
Finjo não doer…
Subtraio a revolta,
Deixo meu corpo ir, e se perder.
Autoflagelo recorrente, e diário…
Corpo ferido, pensar fatalista,
A descrença marcada na minha cara de ótario,
A vida amaldiçoada de um pessimista.
Mas não te preocupes vida…
Eu finjo que não dói…
Não te apoquentes mundo…
Eu finjo que não dói…
E fingirei sempre não doer…
Ficarei para aqui sentado sem nada ter.
Vivendo de mim,
Alimentando-se do que sou.
Um ser ruim,
Que há muito me tomou.
O meu pior inimigo… sou, eu…
Carrego-me a mim mesmo, sem perdão…
Roubando de mim, o que é meu.
Culpado de ser eu, ser eu, um ladrão.
Contra mim prevarico,
Sem mostrar pena de minha consciência.
De tudo o quanto sou abdico,
Em mais um acto de extrema decadência.
Não me tomo por louco…
Antes fosse esse o caso,
De mim já resta pouco,
Bem como do poema onde me arraso.
Exíguo horizonte, o qual meu olhar abrange
Imensidão de falta, vastidão de não ter.
Solidão que avança em falange,
Pelos campos incinerados de meu ser.
Estrelas, astros mortos, sem brilho
Despovoam a chama de meu firmamento.
Sigo lacaio, andarilho…
De costas voltadas ao vento.
Pesa o corpo e a bagagem,
Pesam-me os problemas e as soluções,
Se iludem os olhos com a miragem,
Tocam em alarme os carrilhões.
O cansaço constrói em mim cisternas
Onde a fadiga se acumula.
Minhas incompreensões são eternas,
E meu ser deambula.
Não quero ser injusto, e não te dar uma explicação para nunca te vir a ter, por
isso, neste dia de sol, sem calor, onde me afundo na miséria de ser tudo o que
sou, escrevo-te esta carta.
Acredito ser indevido trazer um ser a este mundo, nem é pelo simples facto de eu próprio
o odiar, mas por ter a certeza que a tua vinda a este mundo, só te iria trazer
sofrimento, e como quero acreditar que te amaria incondicionalmente, seria mau
da minha parte expor-te a isso.
Quem mais que leia isto, vai pensar que sou estúpido, ou coisa pior… no entanto,
acredito piamente, naquilo que aqui escrevo.
Não quero que sintas o que eu sinto, que desanimes como eu, a cada dia que passa
lento… trazendo consigo um pouco mais de inconformismo, e de raiva apática desmedida.
Tenho a certeza que sendo meu, verias o mundo tal qual eu o vejo, verias nele
todos episódios que me atormentam o raciocínio, que me fustigam a integridade física
e mental…que me arrancam as vísceras, enquanto me esperneio vigorosamente…
Não me aches invejoso… estou a pensar em ti, ao não te querer.
Se a tua existência fosse uma realidade, tenho a certeza que me ias dar toda a razão,
e agradecer-me o facto de não existires…
Porem, cai em mim um pensamento que não é bem um arrependimento, mas perto disso se
torna, porque nem tudo é mau… nunca iras ter a oportunidade de conhecer as “pessoas”…
as pessoas que emprestam um tom de cor a este mundo tão negro onde definho,
essas pessoas que tornam isto suportável, que fazem avançar o meu corpo combalido,
e me fazem acreditar, que nem tudo é péssimo.
Mas não existindo não terás isso como preocupação, não existindo poupar-te-ás ao
sofrimento, mas também á alegria que por aqui passa de fugida…
Não existindo, serás o filho que nunca terei…
A tradicional, habitual, rotineira
Forma de sentir do meu ser.
Faz minha existência prisioneira,
E de meu corpo puta de aluguer.
Tremem as mãos, em dias tão banais…
Num desvanecimento acentuado,
De minhas faculdades mentais.
E a busca procede sem resultado….
Denoto em mim, algo parecido
A uma extrema desconsolação.
Encontro-me tantas vezes perdido
Ao ver em tudo, um nada para a salvação.
Avançam-me teorias…
Dizem-me para lutar…
Eu sou deus das apatias.
Não se cansem em me ajudar.
Avanço, retrocedendo a cada passo
Para a inevitável conclusão de tudo isto.
Lembrando, esquecendo a merda que faço,
Na cabeça, como um registo.
Seiva brotada do tédio da vida,
Eu preso em suspensão.
Aprisionado na seiva corrida…
Insecto merdoso, sem salvação.
Se um dia a alma não se dá por vencida,
Não me solto do tédio, mas estatelo-me no chão…
Tenho a vontade toda corroída,
Pelo âmbar de minha frustração.
Não sendo ideia descabida,
Que isto é apenas solidão,
Envergo por nova descida
Ao profundo de minha prisão.
Deixa-me te dizer…
Tudo aquilo que por mim já foi dito,
Reafirmar, sem me contradizer,
Tudo aquilo em que acredito.
Nada disto se dá á simplicidade,
É por vezes complexo e extenuante.
Arde como a insanidade,
Não deixando de ser revigorante.
Tem toda a força do universo como motor.
Dá-me risos, felicidade, e alegria.
Contando com imensos dias de dor
Onde me esvaio em agonia.
Contra-senso anedótico, este sentimento
Que me consome devagar…
Ergue-me de rompante, violento
Para eu me deixar tombar.
Nesta equação, fico sem perceber
Quem afinal é o parasita…
Se este é o sentimento que me faz viver,
Ou se sou só eu que o acredita.
Mas deixa-me te dizer…
Assim… em jeito de confissão…
Era tão mais fácil perecer
Se não tivesses morada em meu coração.
No calor, repleto de frio desta madrugada
Chega-me a insónia, pejada de pensamentos.
Veio, como sempre, acompanhada
De chá, e cigarros que ardem lentos.
No chá dissolvo a força bruta de pensar,
Nos cigarros queimo as frustrações.
É-me tão difícil dormir ou descansar,
Quando em meu cérebro ocorrem mutilações.
Amanha…daqui a pouco… erguer-se-á um novo dia.
Um novo conjunto de acontecimentos recorrentes,
Alimentados pelo tédio, e pela monotonia.
E os cigarros serão cinza, depois de ardentes…
E a caneca de chá cheia, estará vazia…
Era noite tardia quando voltou.
Trazendo consigo uma ânsia descomunal.
Pelas mãos do homem pequeno brotou,
Tal qual raio que desce do céu em diagonal.
Senti-a em todo o meu ser…
E dei-me sem repulsa á sua vontade.
Ela é o que podeis aqui ler,
Nascida num impulso de insanidade.
Nem o nexo trouxe consigo,
Ou por palavras elegantes se fez acompanhar.
Simplesmente desceu comigo,
Ao fundo do fosso onde ninguém quer entrar.
Premiu botões, e mexeu alavancas,
Sem eu, o ter percebido…
De meu cofre abriu todas as trancas,
E agora escrevo possuído.
Regressou, ao partir de alguém,
A inspiração ou algo semelhante.
E agora escrevo nada, para ninguém,
Ao pulsar de uma luz pulsante.
Tu, que um dia foste mais do que eu.
Tu, que eras tu, e tão pouco de mim.
Parte viva de mim, que morreu,
Rastilho fumegante que ardeu em carmim.
Tu figura, focada no pensamento…
Tu que sentias e sofrias, chicoteando-te na poesia.
Tu que não fugias do sofrimento,
Fazendo da humanidade tua heresia.
Ser poeta, que te perdias em devaneios,
Escrevendo o que sentias e o que não tinhas.
Com a força dos poemas alheios
Transportavas tua alma em suas linhas.
Criatura peculiar,
Criadora de novas razões
Vias o mundo com outro olhar
No ímpeto vertiginoso de tuas paixões.
Não te sinto agora em meu interior,
E ficam as folhas brancas e a caneta a descansar.
Na espera pela inspiração de um ser inferior
Que lhes dê uso, e as ouse profanar.
Fome…
- Sim! Realmente, fome é o que sinto!
Ronca o estômago em manifestação
E a cabeça, parece mais que vazia.
E nada do que como me dá satisfação,
Sendo o nada que como me dar azia.
Devoro com os olhos, o prato á minha frente…
Mas com os olhos apenas! A boca permanece fechada.
Sempre um sabor fel, indiferente.
E a barriga e alma cheia de tanto nada.
Não fosse esta fome que me assola,
Esta recusa em comer
Que eu daria tudo como esmola,
A quem tem fome de viver.
O meu desejo,
Suplanta qualquer razão,
E quanto mais não te vejo
Mais me dou á inflamação.
Vagueio, inquieto, sem destino.
Com a alma empalada,
Habitando um corpo clandestino
Ao qual a vida foi tirada.
E queria por tudo, que isto fosse um lamento
Um acto de repulsa, e emancipação.
Mas se há coisa que não tento,
É escorraçar-te do meu coração.
Dite o destino, o que bem entender…
Venham dias de dor, e noites de sofrimento…
Venha tudo, e quem mais vier…
A isto nunca vou chamar arrependimento.
Nasci… de forma natural…
Em dia de… vendaval.
Nasci… digamos que… enforcado,
Com o cordão umbilical ao pescoço enrolado.
E hoje, como sempre tento perceber,
Tudo aquilo que me rodeia
E protejo-me ao escrever….
Palavras que ninguém leia.
A noite segue, decorrendo lentamente…
O sono… ou algo semelhante,
Beijou-me á pouco levemente.
Á um pouco muito distante…
No avanço impetuoso da madrugada
Fustigo-me, autodestruindo o ser que sou.
Meu pensamento não leva a nada,
E quando o sol nascer, só meu corpo sobrou.
Perdoem ó gente que algo de bom vê em mim…
(Eu sempre o procurei, sem nunca o ter encontrado.)
Não sendo bruto, sei que não sou ruim.
Não me é permitido ter outro pensamento,
Dou de mim o quanto posso dar,
Sem ambição de qualquer pagamento.
Sim sou eu! Exemplar único…
Extravasando de meus defeitos…
E ocupado de tão insignificantes virtudes.
Inquietude nostálgica, de um outro ser que habitou no domínio que sou eu.
Presa num qualquer trecho de luz, perdida irremediavelmente num desconhecido de ausência forçada, no tumulto interno, inquieto da ambição contraditória, e incompreensível de nada desejar ser, se encontra a minha sombra…
A minha alma…
A outra coisa que não sou, ou que nem quero ser.
Ser humano perfeitamente normal, dentro da anormalidade inerente á normalidade humana, prospectando os dias e a vida, e a vida e os dias, na busca por algo superior, por algo maior… descobridor de mundos conhecidos, domador de feras afáveis, assim vejo a outra coisa que sou, sem ser a minha sombra…
Gozo a cru dos sentidos e dos sentimentos, sinto-os em mim, como ferros em brasa, usados por um qualquer torturador que inflige dor na busca por uma confissão…
E então confesso…!
Guia-me a percepção, (ou tentativa de tal) do nexo, do propósito, da razão, do sentido…
Tentativa vã, absolutamente falhada…
Dias sem sol, ou luz artificial, onde a sombra para sempre se escondeu, desaparecendo na realidade, abandonando o fantástico mas irreal império dos sonhos e das utopias.
Perdi minha sombra, minha alma, e nem atrás voltei para a procurar, não lhe estendi meu diminuto braço para a agarrar, e a queda e o desaparecimento deu-se como um acto inevitável, de consequências que suplantam, qualquer nexo, propósito, razão ou sentido… e eu, estou tal qual ela, perdido… tal qual ela, imaterializado, mesmo sendo composto de matéria. Mesmo tendo, e sendo humanidade… a antítese perfeita do que é (era) minha sombra…
O fim do mundo é hoje ou amanha…
Principio, do fim, dos tempos, inicio de todos os tormentos.
(Pensamento nocturno na madrugada vã,
E o armagedão em meus alheamentos.)
Premonições sem sentido o dão como certo.
Não há discordância, o mundo vai acabar…
Mas enquanto eu viver sobre este tecto…
Irei morrer e o mundo ira ficar.
E perdoem minha insolência…
Mas no caso rebuscado de tal acontecimento
Avisem com antecedência,
Para eu ser dono de meu definhamento.
Na hipotética hipótese de tal calamidade,
Rasguem os tratados e regras de boa educação…
- Rogo-vos, deixem de ser humanidade,
E festejem vossa extinção.
O mundo pode arder em chamas,
E a terra por si própria rebentar.
Que tu Homem, vais esquecer quem dizes que amas,
Na busca da salvação, que não te vai salvar.
A contagem decrescente há muito iniciada…
10— 9— 8— 7— 6— 5— 4— 3— 2— 1— ZERO
… Vácuo; vazio; escuro; negro… o fundo, de todos os fundos…
…NADA…
Deixa-me dormir e fingir que o sonho não acabou.
Deixa-me dormir e fingir que é real o sonho que meu ser sonhou.
O meu sonho, tem o teu riso,
O teu cheiro, o som da tua voz…
Têm tudo o que quero e preciso,
E por fim, em meu sonho, ficamos só nós.
Nunca o real, será um sonho meu…
Nunca a vida e o mundo me darão
Por presente o que o sonho me deu.
Fui feliz em meu sonho, obra, de meu subconsciente
Andei, corri, saltei, vivi…
E quando acordo… acordo doente.
Vendo que o real, não é o sonho que concebi.
Teimo na escrita, descritiva dos meus sonhos, sonhados
Talvez porque queira tanto a sua realização.
Mas sim, eu sei! Jamais serão realizados.
E todas as preces são em vão.
Envolto no silencio abstracto de minha consumada solidão,
Parto em renovada divagação…
Ateio fogos. Centelhas de luz, na minha razão…
Faróis, de cor berrante, de minha consternação.
Disponho-me sobre o sofá,
Contemplando a teia de aranha presa no candeeiro,
Talvez devesse “limpar” o candeeiro, e destruir a armadilha mortal executada
Pela aranha que nenhum mal me fez…
Não sentindo, a aranha não me ia levar mal, não me insultaria, não…
- Não interessa… não vou destruir a teia de aranha que por cima de mim caprichosamente ganhou forma.
- Vou deixa-la existir…
Existir, como eu, existo…
Por certo não me ia agradar a ideia de um outro ser, que pela simples razão de eu ser inferior a si, se levanta-se de seu cadeirão e me destruísse a armadilha que eu construí para me alimentar.
Todas as acções têm consequências, todos os nossos actos levam a algo…
As palavras ditas… as palavras que não foram ditas… cunham complexamente a existência de nós, seres…
……………………………………………………………………………………
Esquecendo isso…
Mas só isso, porque não me é possível esquecer tudo…
Porque a memória é uma consequência das minhas acções, um lembrete que se acorrenta á complexa e incompreensível “razão” de meu ser…
Fazendo de mim o que sou, fazendo de ti, o que és para mim, fazendo de vós o que sois para mim, fazendo do mundo aquilo que não é para mim.
Se, por um acto de magia pura, as lembranças, as recordações, que tenho dentro de mim fossem de um outro alguém, existiria a possibilidade inequívoca de um recomeço, de um nascer de novo, de criar novas ambições e novos sonhos, para depois, e logo depois, os voltar de novo a perder. Para voltarem de novo a ser consequências de minhas acções, lembranças de meus sonhos não realizados…desmantelados… como as ruínas de algo grande… como prova irrefutável de nada…
Descolo em rodopio, para um outro lugar…
Que não este onde teimo em me deitar,
Disparo o projéctil, de meu divagar…
Na certeza macabra de ter de voltar.
Da divagação incoerente, faço meu reino… um reino onde tudo acabo por dissecar.
Estou agora a dissecar todos os sentimentos que tenho dentro de mim, toda esta angústia, toda esta dor, todo este amor…
Impávido e sereno, na divergência absoluta e resoluta do pensamento, encontrei-me perdido em tudo o que sinto…
A angústia e a dor, são de mim personificação,
E todo este amor…as vezes penso ser vão.
Mas tudo é vão…
Tudo é inutilmente, inútil… com a excepção é claro da teia de aranha, para a própria aranha.
Se eu ao menos tivesse a minha própria teia…
Como seres dotados de inteligência e de razão,
Inventamos forma de contabilizar o “tempo”.
De seccionar, dividir e limitar a sua imensidão.
… Contempla-mos relógios como passatempo.
O calendário por estes dias, dá o ano como terminado.
E sentado na cadeira faço minha retrospectiva,
Pensamentos deste ano que é passado,
Lembranças de mim, de meu ser… desta coisa viva.
Oscilei na corda bamba, disposta sobre o abismo…
Lutei por não cair… mas caí no vórtice de minha dor.
Me deixei ir e ficar, na compaixão bélica de meu fatalismo
Destruindo-me a mim mesmo, sem réstias de rancor.
Nos 365 dias que agora são nada mais que passado,
Senti frio e calor, alegria e amargura, ri e chorei…
E de todos os dias, há um por mim sempre lembrado,
Lembro-o com o remorso, de saber que errei.
E agora apressa-se a entrada de um novo ano,
Onde nada espero, onde nada ambiciono alcançar…
Sim, mais 365 dias contabilizados em dano…
E onde a corda bamba vai sempre oscilar…
O frio corta
A luz da noite nada exorta,
Ergo-me. Saio… fecho a porta.
Olho o céu nocturno, cativante,
Tomba-se em mim o brilho estrelar de rompante.
E invejo a estrela que brilha menos, por ser tão brilhante…
Invejo-a por estar ali… tão distante.
Brilham todas, por cima de toda a tristeza
São servas da sua própria beleza,
Humildes centelhas de realeza,
Testemunhas de minha pobreza.
Neste acto supremo de divagar dentro de mim, de me fugir e de me encontrar, em todos os meus pensamentos e na consternação errática de minhas acções…
Veio esta súbita vontade de escrever e divagar, ou de divagar e depois escrever sobre a divagação feita.
Ladeado por estas paredes, que aturam tudo aquilo que sou…
Violando a folha pura e branca de papel reciclado, onde a ímpetos faço deslizar a caneta azul, que escreve a azul, e que á azul abre sem rodeios, (como serra craniana, bem aguçada) a minha cabeça, pondo a nu o que vai cá dentro…
-Desisto…!
-Não me vou envolver em mim mesmo, outra vez…
Basta de autoconhecimento, ou coisa parecida a isso…Basta…
- Hoje quero divagar, e escrever sobre…
- Sobre a humanidade?
- Não, nem pensar, estou farto de a insultar, de lhe tentar dar a minha razão, só que como é próprio da humanidade, ela é humana, e sendo humana, é teimosa e não gosta de ouvir críticas, ou concelhos… e de qualquer forma ia ter por aí uma parte de mim, aquela que se dá ao trabalho de ainda questionar a humanidade…
- Vou escrever sobre…
- Sobre o quê? Porra…
- Sobre a morte e a vida…?
- Não… agora essas duas é que não…
Uma é o fim da outra, e a outra é coisa nenhuma. E depois lamento-me de uma, não querendo obrigatoriamente a outra… Esqueço-me que estou vivo, sabendo que não estou morto…
- Sobre o que então? Sobre é que vai recair esta inspiração que não tenho, ou este jeito que também não possuo de escrever?
- O tempo que faz, sempre foi um bom desbloqueador de conversa, mas não… ninguém divaga ou escreve sobre o tempo que faz, e para além disso, tem de se sentir o tempo que faz, para se falar nele. E eu… agora aqui, semi-deitado no sofá, ao calor do aquecedor a óleo, que é movido a energia eléctrica, não sinto o tempo que faz lá fora… logo seria errado da minha parte, escrever sobre aquilo que não sinto.
- Tenho sempre a hipótese de escrever e divagar e sonhar e conceber mais sonhos ainda, sobre Ela, sobre a minha musa antiga, e por tudo o que sinto por Ela…
- Não… também não. Decidi não escrever os meus sentimentos neste texto, e não por nele, parte de mim, e se há parte de mim que não é minha é a parte de mim que é Dela. E tirando isso, tenho imensas saudades Dela, e isto, ia tornar-se num texto lamechas, e isso não quero…
Na possibilidade ínfima que Ela leia isto…
……………………………………………………………………………………………
- Veio agora a vontade de fumar…
-Sobre isso é que não… os cigarros e o fumo e o matar do fumo, já me deu para escrever muitas linhas, mas não é isso que pretendo agora…
- Vou fumar, pode ser que a divagação me leve a algum lado, e eu me esqueça de escrever sobre a divagação, e me perca para sempre em divagações, e acorde um dia, e tudo isto faça um mínimo de sentido.
E aí talvez as forças conjuntas do universo me digam sobre o que escrever e divagar, e divagar e escrever depois de divagação feita…
Todo o meu poema é triste.
Pode até ter ironia, mas é uma ironia triste.
Escrevi um dia um poema que não era triste.
Mas já lá vai tanto tempo, que não sei porque é que não era triste.
Parece-me agora, que foi á séculos que escrevi esse poema sem tristeza.
Foi um momento único, que nem percebo como, não tive em mim tristeza.
Eram tempos diferentes… segundos diferentes, mas no meio de tantos poemas é mau só ter um… sem tristeza.
Queria ver a beleza que dizem no mundo existir, e que dá braços á alegria… mas eu, sou tristeza.
Pois penso tristemente.
Escrevo ainda mais… e mais tristemente.
Vivo isto que para mim não é vida, tristemente.
E escrevo em vez de “fim” para finalizar este poema triste e carregado de tristeza… TRISTEMENTE.
O desinfectante corrosivo enche as narinas dos presentes…
Sobre a mesa de aço inoxidável, um corpo imóvel, já sem cor, descansa solenemente.
Tinha tido vida, numa outra vida, e agora somente a morte, nada mais que a forçosa morte, abraçava aquele corpo.
Como abutre faminto o médico legista lança-se sobre corpo, do fatalmente morto, o bisturi rasga a pele, até á carne… um olhar metódico analisa o corpo centímetro a centímetro.
Ainda ontem, aquele, que repousa agora para sempre, era homem comum…
Tinha sonhos como eu, tinha aspirações a um futuro como eu, ria, sofria, amava, odiava… como eu! E agora, nada…
Após análise, profunda, detalhada, minuciosa… para grande espanto do médico, não tinha sido encontrada qualquer causa para a morte de aquele ser…
A morte sempre teve causas, mas nunca razões, e esta nem causa tinha…
Debruçados sobre a última cama de qualquer ser, especulações germinadas eram lançadas ao ar, pelos homens de bata branca que ladeavam o cadáver.
Mas não havia causas para a morte daquele humano ali estendido.
Mas que interessa? Estava morto…
Ninguém sabia quem era…
O que fazia…
Para onde ia…
Não interessa, não importa.
A importância de um homem sem nome é nenhuma, o valor que teve ou deixo de ter em vida não interessa, não importa realmente nada.
Não somos mais que a insignificância absoluta, e a morte é a verdadeira, e derradeira prova disso mesmo.
O corpo do desconhecido foi amortalhado, posto com desdém no interior vácuo da câmara frigorifica…
Dois dias volvidos e não havia familiares, amigos, conhecidos ou desconhecidos vestidos de negro em volta do caixão, ninguém o chorava, ninguém, o lembrava…
Triste e insignificante vida humana.
Já há muito me convenci não ser merecedor da felicidade.
-É triste? – É mau? – Nada mais é que a verdade.
- Se me importo? – É tão impossível não me importar.
Mas antes a certeza da infelicidade do que um dia o sonho voltar.
Sou o refém do desgosto com um certo “ síndrome de Estocolmo” esbatido em mim.
-E se a vida me é tão pouco, ou quase nada, porque é que não lhe arranjo um outro fim?
Mas nesse ponto fulcral, entra a soberana característica do meu ser,
Sou um apático, dominado por uma apatia que tenho sem querer.
Sonho imenso… traço planos mais que magistrais…
Tudo isso sem sair do sofá e sem os tornar reais.
E não bastasse ser apático por natureza,
Sou também, prisioneiro perpétuo da tristeza.
Da perpétua tristeza que a meu lado caminha,
Nunca me deixando só, ou eu a ela sozinha.
Se enegrece o céu, a cada dia tristemente por mim passado.
Feliz de mim, de apatia e tristeza crivado…
O mais belo poema de amor…
Nunca foi escrito.
O mais belo poema de amor…
Foi sentido, pensado e nunca dito.
Todos os poemas de amor…
Nunca deviam ser escritos.
Todos os poemas de amor…
Pecam por não terem sido ditos.
Todos os que escrevem poemas de amor…
Fazem-no por o sentir.
Todos os que escrevem poemas de amor…
Fazem-no para fugir.
Também já eu escrevi poemas de amor…
E nunca, em nenhum deles usei tantas vezes a palavra amor.
Também já eu escrevi poemas de amor…
E a palavra que mais escrevi em todos eles, foi dor.
Ó minha, meu mais que tudo…
Agora só te vejo em minhas recordações,
Vejo-te, nos momentos que por mim passaram.
Eras o real da irrealidade de minhas ilusões,
E a beleza extrema que outros não narraram.
Ó minha, meu mais que tudo…
Estou neste momento a ser consumido
Pela saudade e pelo desespero de não te ver,
Nem mesmo quando caio adormecido
Meu cérebro para de invocar memorias de teu ser.
Ó minha, meu mais que tudo…
Eras luz…
És luz que ainda hoje me dá alento
És de todos os meus sonhos, o mais sonhado…
És a mais bela imagem do mundo exterior, que vejo cá dentro.
Quimera máxima de meu coração fragmentado.
Ó minha, meu mais que tudo…
Desmontei a razão, fiz dela coisa nenhuma
Tropecei em meus sonhos e desalentos.
E agora não há farol na bruma,
Ou forma de juntar meus fragmentos.
Ó minha, meu mais que tudo…
Na impossibilidade do impossível,
Faço da tristeza e desespero meu mundo.
Nada mais me é admissível,
Que este penar profundo.
Ó minha, meu mais que tudo…
Viro costas ao mundo, dele não quero saber…
Nem se gira, ou se para de girar…
Maldito destino que não queria ter…
Forma de vida que só me está a matar.
Agora ai sentado ou sentada lês e tentas decifrar meus “pseudo-poemas”, não te posso ajudar a desvendar os segredos que lá encerrei, mas a certeza podes ter, que todos eles são a “verdade”.
Nunca escrevi a mentira em meus versos, nunca falei do que não sinto, nunca perfumei de belos cheiros, o cheiro putrefacto que emana minha mente.
E é assim …
Sou muitas vezes cru nas palavras que escrevo, e nas ideias que nelas faço transparecer.
Nunca procurei agradar ninguém, nem sequer a mim mesmo, nesta confusão de ideias e ideais esbatidos, cinzelados nas palavras que fiz minhas, e depois, dei a meus sentimentos…
Pois são esses sentimentos… dos mais belos aos mais hediondos que dão os alicerces, as fundações, aos meus devaneios escritos.
Não tens de gostar de mim, nem do que lês… sinceramente, nunca isto de escrever teve essa importância para mim… nunca o fiz para mostrar alguma coisa… para esconder, talvez… mas isso é uma outra história.
Queria escrever mentiras, dizer que sou bom… que o mundo é belo… que tudo é azul e alegria… como eu, queria… escrever mentiras.
Queria escrever que sou forte, e que vejo beleza e uma razão para viver em tudo o que me rodeia… como eu queria escrever mentiras.
Se fosse fotógrafo, todas as minhas fotografias seriam a preto e branco, se fosse pintor todas as telas seriam pintadas a carvão, se fosse compositor, músico seria como Chopin, que criou a música que leva o caixão.
Mas como não sou nada… nem poeta, nem fotógrafo, nem pintor, nem compositor…
Me fico por dizer que o que escrevo, mesmo não sendo nada, é a “verdade”.
Anoiteceu para sempre, aqui, em meu coração.
A luz dourada, cintilante, deixou de aqui entrar.
E nada mais resta, que esta triste condição
De uma dor gigantesca que profana o ar.
Já nem considero isto, sentir saudades…
É mais um enforcamento, recorrente e diário.
Onde proliferam monstros e ruindades,
Num seguir fatal em sentido contrário.
Meu universo inteiro, não tem estrelas, ou alegrias.
Na minha cela imunda, escura onde definho,
Já nem a salvação vem em fantasias,
Ou a fuga nas palavras dos versos que alinho.
Não vejo janelas nem portas, em paredes de betão armado
Somente a persistência sentenciada na clausura.
Pensei dizer o certo, mas quando o disse, já esteva errado
Na imensidão do mundo, estou preso a uma prisão de amargura.
No relevo que a caneta esculpe, nestas paginas profanadas,
Com esta caligrafia mal amanhada, despojada de sentido,
Encerradas nestas paredes… e em meu ser encerradas.
Estão as ideias… e as desculpas de um ser caído.
Sou, fragmento de um puzzle… esquecido, desaparecido.
Sou, cão vadio…abandonado, perdido.
Sou, pau de fogueira… que não ardeu.
Sou, o soldado medricas… que se rendeu.
Sou, a imagem tremida… que sonhei ser.
Sou, o falhado… que nunca quis vencer.
Sou, monte de estrume… dedicado a decomposição.
Sou, a pedra não pisada… por aqueles que pisam o chão.
Sou, bala perdida… em batalha vencida.
Sou, falha humana… aceite, consentida.
Sou, barco encalhado… que encarde o mar.
Sou, o culpado… que querem ilibar.
Sou, a nódoa… que mancha a camisa imaculada.
Sou, a oportunidade flagrante…falhada.
Sou, de uma importância relativa.
O caminho que sigo,
Têm pedras desgastadas.
Mas caminho, e não ligo…
São pedras, para ser pisadas.
Têm como desígnio ser maceradas,
Serem recalcadas no chão.
São pedras de calçadas…
Desprovidas de sensação.
Um propósito humilhante, por elas abraçado…
Mas um propósito… uma razão…
E eu… que me mantenho aqui estático,
Desconhecendo o propósito de meu ser.
Olhando as pedras que piso, com um olhar errático
Sem a sua tenacidade perceber.
Queria como elas ter um sentido,
Mesmo que fosse ser pisado,
Calcado, macerado, e depois esquecido.
Mas não…
Tenho menos desígnio, que uma pedra da calçada.
Valo o que valo… e o que valo é pouco mais que nada.
Sou herói grego, sem beleza, força ou inteligência,
Sem viagens a fazer, ou monstros a derrotar.
Sou prisioneiro de minha vulgar existência,
Que Deus algum ousa transmutar.
Tenho um grande amor em mim, como tinha Orpheu
E iria, como ele, ao Hades, para a salvar.
Galopa em mim a tremenda dor de Prometeu,
Que tal como a ave, de mim se vem alimentar.
Em labirintos confusos, me acabo por perder
Enganado por cavalos deixados á minha porta.
As asas que não tenho, o sol, as faz derreter.
A mim… que ninguém me exorta.
Nas minhas viagens não feitas, nunca vi o Olimpo,
E não passei o Estige, por não ter pago a Caronte.
Nem miragens vi, de um céu limpo,
Ou de algo não trágico no horizonte.
Olhei Medusa, e em pedra me transformei,
Fugindo do Cerberus de meus adormecimentos.
Sem me levantar, me cansei…
Nesta Odisseia de meus pensamentos.
O sol irrompe, na manhã de neblina,
Volvendo costas á noite de negrura cristalina.
Foi mais uma batalha épica por ele vencida,
Em mais um amanhecer de minha vida.
Jazo, inútil, aqui sentado…
A pensar no que ontem me foi lembrado.
Disseram-me que era um inútil, que nada valia
“Não discordei! Como podia?”
Dói tanto ouvir a verdade…
Mas louvo imenso a sinceridade.
E mesmo sabendo, o zero que sou,
Essa “frase-seta” me trespassou.
Porque em determinados dias,
Me escondo em deliciosas fantasias.
Escondendo a inutilidade completa de meu ser,
Evitando o espelho que não quero ver.
Se houvesse remédio para o inútil que há em mim…
Se houvesse um meio, de á inutilidade por fim…
Beberia esse remédio, tomaria esses meios.
Esvaziaria meus membros, de inutilidade cheios.
Perdoa-me sol, por teres de me aquecer…
Perdoa-me por aqui sentado ver mais um amanhecer.
Contar o tempo…
Todos os segundos, minutos, horas, dias, meses…
Não conto o tempo…
Sinto-o passar.
Sinto-o ir, e não voltar.
Sinto dentro de mim as recordações.
Os momentos electrizantes, esperados…
Todos os segundos, desassossegados.
Sinto tudo isto… e muito mais…
Tanto mais…
No frágil passar do tempo,
Tudo acaba por mudar.
A certeza, vira arrependimento,
Quando digo, o que queria calar.
Escrevi, o mundo com outro olhar
Corri, sem ter ido a nenhum lugar
Suspendi, o mundo sem o poder segurar
Vi-me diferente do que é habitual estar.
Senti, algo mais que dor…
Vejo-te como algo superior.
Imagem de esplendor…
Por vezes…
Não queria ver, o que meus olhos me obrigam a ver…
Não queria ouvir, os sons que meus ouvidos me teimam em trazer…
Nem sentir o sabor, sem sabor da ausência do prazer,
Ou sentir o cheiro pestilento imanado de meu ser…
Não queria sentir na pele, todo este sofrer.
Imerso no mar do pensamento,
Sonho meu, dorme ao relento.
Por si, passa o tormento…
Desvanecendo em lamento.
Naufragado em dia de tempestade,
Sonho meu, viu calamidade.
Deixou de ser sonho, virou irrealidade,
No inquieto trovejar da verdade.
Caindo desamparado, no vil chão…
Sonho meu, sentiu contusão.
Se viu perder, em confusão
Nas vagas inquietas da consternação.
Vejo-o agora morto, sem vida…
Sonho meu, se matou… suicida.
Não viu, do tormento saída…
E a vida deu como concluída.
Mil armas apontadas á cabeça,
E a infelicidade de nenhuma disparar.
Vegetativo… inútil…
Aqui me encontro eu, na decadência imensa de ser eu.
Não encontro em nada, um significado para tudo isto.
E deixo-me estar…
Dias tornados em noite.
Noites tornadas em trevas.
Sou subalterno, de meu estado sério.
Demasiado sério…
Não faço rir ninguém, e nada me faz rir.
Carrancudo por feitio, ou talvez por defeito.
A vida que por mim passa,
É-me, um enigma de difícil resolução.
E eu tenho-a pensado, tenho-a analisado.
Sem tirar conclusões.
Já nem grito…
Já nem sonho…
Enojo-me de mim,
Por ter em mim este pensar.
Talvez me odeie tanto,
Pelo simples facto de ser eu.
Talvez exista por aí…
Uma resolução fácil para meu dilema.
Mas exige coragem, e egoísmo.
E, corajoso, sou pouco…
E o egoísmo, pouco me diz.
Posto isto…
Resta, a permanência
Vegetativa, inútil, carrancuda,
Incompreensivelmente incompreendida
De ser eu, e de tudo o que isso acarreta.
Os escudos, jazem quebrados,
E dou-me por vencido.
Já não há dias encantados…
E o céu, esta enegrecido.
Ruínas de alegria…
Há muito abandonadas.
Sementes de agonia,
Em meu coração germinadas.
Indefeso, me mostro, a esta dor
Na calma amorfa de a sentir.
Fico só, em tremor
Ao ver á minha volta tudo a ruir.
Me abandona tudo resto,
Fica, a mágoa companheira…
Me sumo, me detesto…
Numa existência grosseira.
Liberto-me de fantasias,
Encarando a dura realidade.
Amargurados os meus dias,
Crivados de insanidade.
Já nem lambo as feridas,
Deixo-as tomar infecção.
Encarno figuras destorcidas,
De discípulo da desilusão.
Cada vez que falo…
Cada vez que escrevo…
Tenho tendência a deixar…
A deixar muito por dizer,
A deixar muito por escrever.
Fica-me sempre a impressão
Que os versos escritos, não estão acabados.
Uma forte convicção,
Que na conversa, nem todos os assuntos foram abordados.
Tento ser explícito e coerente…
Mas quando está “terminado”
Penso bem, e fico descontente…
Por algo ter ficado de lado.
Ironicamente…
Agora falo das palavras não escritas,
Agora escrevo sobre as frases que não foram ditas.
Foram… dezenas delas, centenas delas, milhares delas…
Até quem sabe… milhões delas…
Deixei mais por dizer, que o que disse…
Deixei mais por escrever, que o que escrevi.
Não consigo pensar no escuro…
Necessito de uma luz que alumie o pensamento.
Pensar no escuro, é pensar sem barreiras,
É a libertação, social e completa do ser.
É ir… não voltar e quebrar fronteiras.
É pensar, por pensar, sem ter nada a perder.
Sou guiado pela lógica e pela razão…
Pela minha lógica, e pela minha razão…
Mas até essas fazem parte
De um pensar comum.
Queria o engenho e a arte,
Para não ser só mais um.
Tombo em silencio, na imensidão iluminada,
Desolada de meu pensamento…
Eles têm as mãos e os pés atados.
Eles vivem… mas estão condenados.
Fingem ser livres, e abraçam a ilusão,
Fingem voar, sem tirar os pés do chão.
Consagram-se a si mesmos sem pudor,
E fazem aparentar, que entre si, há amor.
São traços errantes, obrados, por uma criança,
São a oferenda vã, que a besta amansa.
Negoceiam a vida e a morte,
Digladiando-se pelo azar e pela sorte.
Foram á lua, violaram o mar,
Sentem-se estranhos, em qualquer lugar.
Domaram tigres e leões,
Encheram-lhe os estômagos de vilões.
Mostram a cor dos dentes, em fingimento…
São lacaios supremos do arrependimento.
- Eu quero os campos conspurcados…
Quero as falésias, promontórios calcinados…
Quero os corpos dos amaldiçoados…
Seus sonhos e projectos malfadados.
Dêem-me as cinzas ainda quentes,
A inteligência dos descrentes…
O desleixo dos desobedientes,
A falsidade dos incoerentes.
Dêem-me o ódio e a maldade,
As pragas e a ruindade…
Dêem-me a crueldade…
Atulhada de perversidade.
Dêem-me…
Derramem em mim o mal da humanidade…
Dêem-me lixo,
Dêem-me os desperdícios…
Não me quero em crucifixo.
Quero precipícios.
Quero a amálgama, resultante do mau…
De tudo o que não se dá a um Deus.
Não quero pedras preciosas, quero o calhau…
Quero os males… que todos são meus.
Vi-me… fora de meu corpo,
Lá fora, correndo desgovernado.
Pisava o chão descalço…
Num acto tresloucado.
Inspirava ar…
Expirava demência,
Corria sem parar
Voando em imprudência.
Farto-me do tédio…
Mas, temo a mudança.
Queria um intermédio
Que equilibrasse a balança.
Os dias entediantes…
Massacram ao passar.
As mudanças angustiantes…
Fazem o mesmo, ao voltar.
E olho para mim…
De fora de meu corpo…
São três e pouco da manhã.
Acabei agora de ler, um livro de poesia.
Como é estranho, esse mundo dos poetas.
Quase tão estranho como é o meu… o meu estranho mundo, o meu estranho pensar.
Autoproclamei-me como um pseudo-poeta… e é isso que acho que sou… sou algo semelhante… algo parecido… algo quase… algo mais ou menos…
No fundo nem sei bem o que sou…
Mas são três e pouco da manhã… e o mundo, nesta parte dele, está a descansar, tirando os destemidos que profanam a noite.
E eu… aqui, também… não descanso.
Dormi até tarde, e não tenho sono. Não têm importância, amanhã, também não há muito que fazer.
Nem é mau, não ter muito que fazer, mas têm um grande contra, uma pessoa desocupada leva o tempo a pensar, e eu… estou farto de pensar.
Faz frio lá fora…
Pousei o caderno e fui fumar…
Fumar faz mal, mas eu adoro fumar… “FUMAR MATA” vem escrito no maço de cor negra que todos os dias teimo em comprar.
Fumar… o acto de fumar, é semelhante ao amor… têm quase chama, nuvens de fumo surrealista… e mata.
Mas depois de experimentar é difícil livráramo-nos de qualquer um deles…
O vento sanou lá fora…
Já passa das quatro da manhã, e continuo aqui, agarrado ao papel, á caneta e aos pensamentos.
Debato teorias comigo mesmo, deixo-me levar na criação apoteótica de meus desconexos devaneios.
Tenho a impressão de ter descoberto algo importante…
-Reinventei a roda?
- Encontrei a explicação para a existência do ser?
Nada disso…
Acabei de descobrir que este amontoado de palavras mal escritas, não contém qualquer sentido.
E eu, que gostava tanto de escrever algo com sentido, com valor, para mim, e para alguém que um dia leia isto.
Queria um ser poeta, e que alguém lê-se um livro escrito por mim, e o acabasse de ler as três e pouco da manhã… e depois pensasse:
“Que estranho mundo este, o dos poetas.”
Tenho pensado em ti…
Levo horas e horas a pensar em ti.
Tens lugar cativo em meu pensamento.
Tenho pensado em como era abraçar-te e dar-te o mundo, e as estrelas e o universo por inteiro…
Em abraçar-te de forma em que tudo, o que nos rodeasse não tivesse qualquer importância…
É bom pensar em ti.
Mas tira-me o sono…
E depois, escrevo que estou incessantemente a pensar em ti.
Antes, este pensar todo, envolvia sonhos, e mundos criados a meu belo prazer…
Agora… este pensar, é principalmente a dor imensa, e esta mágoa que me dilacera.
Mas continuo a pensar em ti…
Sinceramente, nem penso, em não pensar em ti.
És marca eterna em mim, sem metáforas, ou palavras pomposas… é isso mesmo… estás marcada em minha mente. Não o nego.
Como o poderia negar?
E ao pensar, por vezes esboço um sorriso. (Coisa rara em mim…) um sorriso verdadeiro envolto em nostalgia…
Vou continuar a pensar em ti, mesmo quando apagar a luz, e tentar dormir. No imediato instante em que acabe estas frases, onde digo simplesmente que tenho pensado em ti…
Ergo-me, sem me erguer,
Da apatia memorável de ser…
De ser eu, o que não quis ser…
Olho-me sem me ver.
Estou preso a esta realidade,
Que pouco tem de real.
Não creio ser real.
Não creio ser verdade.
Vendo-me, com uma venda antiga.
Bordada de sonhos…
De meus tristes sonhos…
Deito-me… já sinto fadiga.
Olho o tecto, novamente,
Recomeço a pensar…
Novamente a pensar…
Repetidamente, indiferente.
Pesa-me tudo de forma colossal
Sinto o corpo a estremecer…
Sinto-me estremecer…
Enche-me um medo infernal.
Triste dia comum…
Triste dia de tédio banal.
Como é belo, o silêncio, da cidade atarefada.
O silêncio dos carros, das pessoas a passar,
Um silêncio que não me diz nada.
Este silêncio é belo, é profundo.
É um silêncio humanizado…
É o silêncio que silencia o mundo.
Não são libertados decibéis
Nas palavras erradas de não ditas,
É o silêncio do que não dizeis.
Silêncio, inaudível e estrondoso…
Da vida efémera e quotidiana,
Deste existir horroroso.
Eu quero o silêncio!
A essência silenciosa, de ti humanidade,
De tudo o que tens para dizer,
E não dizes. Pura falta de verdade.
E se alguns ousam profanar o silêncio…
São silenciados.
Olho-vos vassalos da futilidade,
Crédulos da mentira e da cobiça…
Deito-me… faço-vos, a vontade.
Me prendo em nós de preguiça.
Por não ser crente, e em por nada crer
Vejo-vos arrastar minha vida
A qual, entrego sem responder,
Com um bilhete só de ida.
Quem me dera ser como vós…
Ó coisa nenhuma que sois.
Ser velhaco, ser atroz…
E não pensar no que vem depois.
Amarrem-me ao mastro do navio…
Que na tempestade vai afundar…
Ponham-me á frente do canhão…acendam o pavio…
E deixem-no rebentar.
Não creio…
Não quero crer…
O futuro, á felicidade faz tangente.
Mas não a atinge, não lhe acerta…
Finge lhe tocar futilmente,
Mas a ferida esta sempre aberta.
E no fim sou crente.
Sou crente, que não quero crer em nada…
Não creio, em quem me mente,
Não creio, numa razão encomendada.
Desesperadamente relembro, o que em mim já foi alegria.
Relembro… e caio desfeito em melancolia.
Houve em tempos distantes…
(tão distantes, que faz doer.)
Horas, dias brilhantes…
Momentos, que, não poderei esquecer.
Mantenho-os guardados em mim,
De forma, a não ser tomado
Por esse inferno sem fim,
Que me mantêm sitiado.
São memorias… apenas e só memorias…
Que quando lembradas, me fazem sorrir.
As mais belas historias…
Que alguém, jamais, conseguiu produzir.
E por aqui me mantenho, alimentando-me
Do que fatalmente, é passado.
Culpando-me, chicoteando-me…
Por tudo o que fiz de errado.
Se me retorcida o coração…
Ao ver que não haverá mais momentos iguais.
Tudo o que sou cai pelo chão…
Desfigurado, ao sabor do jamais.
Tenho as mãos na cabeça,
Segurando todo o peso do meu ser.
Temendo que teu olhar desconheça,
As palavras vãs, que vou escrever.
Tenho resistido, á tentação,
De te invocar, ó musa minha.
Mas sempre foste inspiração,
Para escrever só mais uma linha.
Tenho mantido cativo em mim,
Toda esta flagelante e amarga saudade.
E perdoa se sou ruim,
Mas já não vejo luz ou claridade.
Dedico-me então a sofrer…
E já nem disso peço salvação.
Penso que este doer,
É mais um pedaço de meu coração.
Vejo os dias passar,
Envoltos em bruma.
E as memorias a içar,
O que já foi tudo, e agora, é coisa nenhuma.
Queria que se cessasse
Em todo o meu ser,
Que não me castiga-se…
Mais este sofrer.
No entanto… fatalmente,
Meus desejos, não são atendidos.
Sinto freneticamente …
Sentimentos não correspondidos.
E vem o amanhecer… diariamente…
Trazendo consigo recordações…
Mente minha mente…
Se contraindo em ilusões.
Não vejo meio, de isto mudar.
De gatafunhar outra história,
Estou enfermo, sem me impugnar,
Pedindo esmola, á memória.
Já nem considero isto viver…
Não passa de uma flagelante duração.
Onde aos poucos ando a morrer,
Não vendo em nada razão.
Estes versos, penitenciados.
Dão forma ao meu sentimento,
Aos meios esgotados…
De prender o que vai cá dentro.
Tenho-te cinzelada, em meu interior…
Com traços de uma beleza absoluta.
Lembro-te com o fulgor…
De uma certeza resoluta.