Sinto que me perdi…
Algures, entre o princípio e o fim.
Entre o que sou…
E o que quis fazer de mim.
Decadência minha,
Letargia sem fim.
Sonhei muito, sonhei…
Mas nunca fui de realizar.
No fundo errei,
Em nunca sequer tentar.
Destinado a derrota.
A nunca me sentir realizado.
A minha vida morta.
O meu cérebro trincado.
As questões dos comuns,
Que para mim, não, fazem nenhum sentido
Valores de alguns…
Que me mantêm perpetuamente perdido.
Queixo-me?
Tenho razões para me queixar.
Sou perseguido, por um destino,
Sempre pronto a nada me dar.
Um azar mesquinho,
Sempre pronto a me castigar.
Não sou coitadinho,
Mas isto é impossível de suportar.
Há quem se queixe da sorte e do azar.
Outros do infortúnio…
Eu queixo-me de nada alcançar.
Nuvens de tempestade,
Abóbada de meu céu,
A cómica realidade, que sempre me fodeu…
Conto os dias…
Que teimam em não passar.
Tristezas, agonias.
De tanto esperar.
São horas infindáveis,
Momentos de tortura
Dores imagináveis,
Nesta minha loucura.
Esta espera, desesperada
Que me afunda no fundo.
Na espera de ti, na espera de nada,
Alienado do mundo.
Esta crescente ânsia
De te ver
Sentir a tua fragrância
E a ti me render.
Desespero por quem espero…
Desespero por quem espero…
A noite descamba
Numa insónia delirante
O dia, que não e dia…
Neste pensar constante
Os objectos á minha volta
Parecem todos destorcidos
É esta a miséria…
Dos que estão perdidos.
Por algum motivo...
Por nenhum motivo...
Dou comigo de novo…
A pensar em ti novamente…
Nesta minha obstinação….
Vem de novo o sabor…
O sabor, amargo,
Da tua indiferença.
Me resta o calor…
O calor, sem embargo,
Da tua presença.
Tenho tanto para te dar,
Sem nunca querer nada de ti.
Continuo sem assimilar,
Por que é que a vida não me sorri.
Caio desamparado,
Neste “gulag” tenebroso.
Irmão germinado
De meu cérebro cavernoso
Silencio!
Já não se sente o bater,
A pulsação do meu coração.
Acabou por tudo desaparecer
Quando cai no chão.
Acabou o sofrer…
Acabou a frustração…
Julguei-me morto…
Pensei ter sido consumido,
Agarrado pela morte.
Quando ela me segredou ao ouvido
- Desta tiveste sorte…
SIM! Os sonhos não são reais.
As ilusões não se vão realizar.
Desejo por desejar
O que jamais…
Se ira concretizar.
Tenho disso perfeita noção,
Mas continuo a me iludir.
É mais fácil perder a razão,
Que deixar os sonhos cair
Vejo mil portas fechadas,
Que se alinham a minha frente
São de ferro forjadas,
Para desespero da mente.
Obstáculos intransponíveis,
Para as minhas ambições.
Peças inamovíveis,
Das minhas frustrações.
Ao fracasso não me rendo
Não tenho coragem para o enfrentar,
Minhas ilusões não vendo
Elas irão me salvar.
E caio novamente
Neste caos moribundo.
Não consigo seguir em frente
Desancorar-me do fundo…
Começando pelo fim,
Me aproximo do principio…
Da génese encenada.
Pelo Homem…
Criada, dramatizada.
A mentir impingida
A farsa elaborada
Que tanto mente não dizendo nada.
Os olhos vendados
Que nada querem ver.
Os monstros criados
Para o povo temer.
Os contos de terror
Á gerações contados,
Provocam horror
Nos que são controlados.
Uma propaganda
Que não é discreta.
O mundo manda
Numa direcção incerta.
Vamos chegar ao momento
Em que para trás não é possível voltar.
Vem depois o lamento
Que a mentira faz lembrar.
Tantos são os momentos
Em que acho a este mundo não pertencer,
Estes jumentos
Não me o fazem esquecer.
Tanta estupidez e ignorância,
Me faz questionar:
-Será tudo minha arrogância?
Não ofende perguntar.
Talvez seja eu o culpado
Por não ser igual á maioria.
Não ser burro vendado
Deitado em porcaria.
Ou estarei a invejar?
Toda a vossa estupidez.
Talvez…
Talvez, esteja farto de tanta lucidez.
Tuas lâminas, afias
Até parecerem espelhos,
Esperas todos os dias,
Pelos condenados de joelhos.
Dor impingida
Tua satisfação.
Roubar uma vida
Tua contemplação.
Teus esquemas mortais
Propositados para matar.
Peças fulcrais
Desse teu bem-estar.
Tua maldade
Não conhece limites
Não existe humanidade
Em tudo o que transmites.
PS: A vida, é um carrasco sem arrependimentos.
Que nos dá, e logo depois nos tira os bons momentos
O amor… esse eterno sentimento,
Alimentado pelo vento.
De alegria causador
Culpado de tanta dor.
Escrito, invocado…
No futuro, no presente e no passado.
As vezes sentido,
As vezes mentido,
As vezes procurado,
As vezes condenado.
Inquietador de universos
E de sonhos adversos
Criador, de paixões
E mutilações,
De historias de encantar
De poemas de chorar…
O amor é:
Uma incógnita, descontrolada
É um querer tudo, sem exigir nada.
É um desconcerto interno
A ponte, entre o céu e o inferno.
É a força que o mundo faz mover…
É aquilo que não sei descrever.
Quero ser irracional,
Quero ser inconsciente.
Quero esquecer o banal,
E sentir-me presente.
Não quero mais pensar.
Quero ser sugado…
Levado para outro lugar,
Quero ser sedado,
Para me voltar a encontrar
Quero ser consumido,
Pela tua luz, incandescente.
Ser resumido
Ao meu ser, simplesmente
Ser arrastado pelo chão,
Sem qualquer compaixão,
Quero ser perdoado, sem merecer perdão.
Quero sentir a vida,
A correr no meu corpo,
Levar tudo de vencida…
Ambiciono ser, irracional!
Não distinguir o bem do mal.
Quero ser imoral.
Quero ser decomposto
Á matéria primordial,
Ser homem sem rosto
Na batalha final.
Existe quem siga caminhos,
Por outros, marcados
Não seguem sozinhos…
Sempre acompanhados.
Recuso-me a ceder
A ser mais um na manada.
Recuso-me a viver
Uma vida por alguém, programada.
Ninguém ouse me dizer.
Dizer, o que fazer…
Não sou um escravo.
Um apóstolo do senhor.
No meu peito cravo,
Um sentimento esmagador…
De revolta e de desdém.
Ao que os outros pensam,
Ao que aos outros convém.
Sou discípulo de mim mesmo
Criador da minha religião.
Sou discípulo de mim mesmo
Criador da minha razão.