Mil loucos brandem
No infrutífero de sua loucura,
Minha cabeça, arruínam
Neste mundo sem formosura.
Sinto ser, o inconformismo
Em personificação…
Discípulo do pessimismo
Por subordinação…
Ergo louvores a derrota,
E ao fado, fadado.
Em meu pensar não brota,
A visão de um mundo melhorado.
Desisto antes do começo…
De algo ser feito.
Assim não pago o preço,
De ver meu sonho desfeito.
De nada serve lutar…
Ou entrar em batalhas perdidas.
Só no cansaço das pensar
Já as dei por rendidas.
Corrói os meus dias…
Dilacerando meu corpo fraco,
Me confina, a um desalento sem acto
Em pecaminosas nostalgias.
Vislumbres de um passado,
Que o tempo levou.
Que na memória se marcou,
Em meu ser trespassado.
Nas horas actuais
Nesta era, sem rumo
Se evapora no fumo,
Dos sonhos que calcinais.
Cáustica é a existência,
Perante a corrosiva negrura…
Definhada em minha amargura
Cruz de minha penitência.
O ácido que me corrói…
Manancial de tudo o que dói…
Principio do fim, que me destrói.
Todas as minhas ideias, palavras…
Versos… nada são.
Conexos complexos…
Que, a nada levarão.
A beleza universal
Que o universo contêm,
Em mim provoca, por vezes
Apenas um sentimento de desdém.
E as falsas verdades
Que tantos julgam defender,
São utopias sem nexo
Que não consigo conceber.
Tudo isto…é nada!
Em dias como o de hoje…
Em que algo carece em mim.
Tudo é inútil, despropositado,
Num imenso nada sem fim.
Páginas em branco
Que carregam toda a agonia do meu ser.
Páginas onde tranco
Os despojos, de meu viver.
A estupidez, dos dias…
Que suporto… suportar.
Esquecido de alegrias.
Num constante batalhar.
E a tua falta…
A tua flagelante ausência,
Em meu ser exalta,
Toda a minha dependência.
E fecho os olhos, perpetuando…
Um momento no passado
Sem corda, o vou agarrando,
E vou mantendo lembrado.
Teima o mundo em girar,
E a mim tudo me parece insignificante.
Até mesmo o sol brilhar,
Me parece algo delirante.
Faço um esforço, tantas vezes vão…
Para me rir, e mostrar felicidade.
Tantas vezes caio por chão,
Em minha modesta nulidade.
E culpo o mundo, a humanidade
Por toda esta minha convalescença.
Devia ter, e não tenho, humildade.
Em não alimentar em mim, tal crença.
A página outrora branca…
Vejo-a agora rabiscada.
Ela prende, esconde, e tranca…
Fragmentos de minha vida irada.
Caio…
Na tristeza que sempre me marcou,
Neste desconsolado sentimento que me abraçou.
Amaldiçoando o tempo que já passou.
Destroçado me encontro neste preciso momento.
Agredido por este perverso tormento,
Fonte inesgotável de todo o meu sofrimento.
Caio…
Em meu purgatório privado,
Onde meu coração, em sofrimento é estrangulado,
E tudo o que era belo se vê, acabado.
Se fina em mim, a alegria que reinava…
Que meus tristes dias, em soberbos transformava.
Cessou o ânimo que dentro de mim cavalgava.
Caio…
Sem me poder levantar…
Nada resta, se não esperar…
Convulsões ruinosas em minha mente,
Ser desafortunado e descrente.
Extraviado de seu precedente,
Revoltado, em sua ira incoerente.
Renego a falsas convicções,
Me resumo em minhas ilusões.
No desespero amargo de minhas frustrações,
Me escondo, em vagas de objecções.
Me mutila, aquilo que não obtenho,
Me estropia, aquilo que não tenho.
Em meu desejo profundo, onde tudo desdenho,
No imenso nada que em mim contenho.
Convencido estou, que tudo é assim.
Na confusão eterna que existe dentro de mim,
E me impulsiona para mais perto do fim.
Para um desterro…cruel e brutal,
Onde capitulo numa luta desigual
Decepado por um golpe fatal.
O cinzeiro que olho fixamente,
Cinzeiro de meus sonhos.
Final de coisa nenhuma.
Descaio sobre, ti novamente…
Em meus pensares medonhos,
Envolto em minha própria bruma.
Redondo, quadrado…
Transbordando de cinza carbonizada,
Final do fim, de uma chama acesa.
Desígnio de um fim esperado
De uma calma martirizada,
Da dilacerante certeza.
E tenho vontade de pegar no cinzeiro…
E estatela-lo contra uma parede da divisória.
Vê-lo desfazer em cacos…findando-se no chão.
Tenho essa vontade… não seria pioneiro…
Mas poderia redigir uma outra história.
Em que seus cacos, não seriam os cacos de minha razão.
Algo maior que a vida…
E que todas as coisas palpáveis.
Algo maior que meu ser,
E que todos os males irremediáveis.
Algo tão grande…
Maior que os sonhos, que os dias.
E que as horas infinitas.
Que todas as profanas melancolias.
Gigantesco sentimento…
Maior que qualquer abismo, ou inferno…
Mais forte que o mar e que o vento
Algo tão imenso e tão terno…
Algo maior…
Maior do que o interminável…
Mais belo, mais afável.
Titânico e irrefutável.
Um algo muito maior…
Maior, que a certeza e a incerteza.
Mais rico que qualquer riqueza
Mais nobre que qualquer nobreza
Mais forte que qualquer fraqueza.
Conta-me um conto, desses de encantar
Onde tudo seja belo, até o acordar.
Onde para mim o sol se disponha a brilhar,
Onde rimas minhas não se percam no ar.
Vem e embala-me numa história colorida…
Algo melhor que esta vida
Melhor que esta teia… tecida.
Dilacerante e retorcida.
E que da vigente dor, se resumam recordações
E que vivam de mãos dadas sonhos e ilusões.
Que exista luz, ao inverso de clarões.
E que os dias. Os dias sejam mais que desilusões.
Nesse mundo extasiado,
Nessa história inexistente
Meu delírio seja controlado
E o mundo seja menos deprimente
Vivendo num conto encantado
Arrebato e contente.
Subo ao topo do monte
E grito bem alto
Fico de frente…de fronte
E depois… salto.
Não percebo…
Ou não quero perceber,
Que tudo o que recebo
Acabo por perder.
Vazio existencial
Que preenche meu ser
Um estranho manual
Que não me ensina a viver.
E grito…
Repetidamente em meu pensamento.
Soltando a revolta e a frustração
Luto, de mãos nuas com o tormento,
Até que um de nós caia pelo chão.
Só mais um grito…
Solto em vão.
Tripudiando na noite,
Absortos do real…
Os loucos vão dançando,
Numa demência marginal.
Silhuetas rastejam pela parede,
No fulgor do desatino.
Se brandem corpos
Ao sabor do sopro divino…
Tomados por algo demoníaco
Se entrelaçam na dança,
Matando as desventuras
Num concílio de bonança.
Um crepitar de almas, cansadas
Deste algo, semelhante ao viver.
Se consomem num falso motim
Respirando ar até ao amanhecer.
E pobre de mim…
Que sou louco, e não sei dançar.
Não me satisfaz
O que tenho.
A mim me desfaz.
O que desdenho.
Quero algo mais…
Algo diferente do normal.
Pois sou dos tais,
Que teme o banal.
Julgo ter uma certa fobia…
Em meu desconserto natural,
Da flagelante monotonia
Que transtorna o que é fulcral.
Me aborreço na displicência
Das horas infernais…
Gritos de clemência…
Pedindo apenas, algo mais.
Algo mais…
Que a fútil banalidade,
Que jamais…
Me poupa á sua brutalidade.
Entre poeirentas prateleiras
Atafulhadas de objectos anónimos,
Se encontram falsidades, verdadeiras.
Entre seus criptónimos.
Equações pretensiosas
Num velho quadro, esquecidas.
Ambições perigosas,
Que o tempo levou vencidas.
Homem sem semblante
Perdido no imenso, de seu ser
Olhar delirante…
Que tudo olha, sem nada ver.
Demonstra a cólera adormecida
Pela poção não ter encontrado.
Em uma epopeia perdida,
No seu sonho quebrado.
Forçou a ciência, e o conhecimento
Tentou corrigir a realidade.
Era a sua vida, seu empreendimento.
Mas foi fadado á orfandade.
Os momentos presentes,
Cedo serão memórias.
Estaremos ausentes
Relembrando historias.
Sentiremos, saudades,
Lembraremos o passado.
Filmes de outras idades,
Em que não havia pecado.
Marcharemos rumo a outra era…
Insatisfeito com esta.
Chutando na esfera,
Feia, e funesta.
Dobraremos o tempo,
E a sua malvadez.
Vencendo o contratempo,
Para viver outra vez.
Memórias…memórias.
Apenas restam memórias.
De outros tempos de outras glórias.