Num vazio existencial.
No vácuo perfeito e harmonioso.
Um nada transcendental.
Mais belo que horroroso
Mais escuro que radioso.
Me liberto, salto para o fundo desse nada…
Vendo bem, no fundo, não somos nada.
E nada seremos…
Enquanto não percebermos que nada somos.
É nos dada a oportunidade de sermos algo mais…
Um pouco mais, do que o nada que somos.
Mas nos perdemos, nas futilidades banais…
E nas misérias do que não fomos.
Tirando os cigarros que fumo…
Cigarros que teimo em fumar.
Pouco mais acabo por fazer,
Entre os acender e apagar.
Fumar mata…
E vou-me suicidando, lentamente.
Por entre os cigarros que vou fumando.
Quando caio na tristeza, quando ando contente…
Cigarros fumo… em quanto vou andando.
Podia pensar, em deixar de fumar…
E depois o que ia fazer?
Menos sentido ainda, teria este lugar
E toda a existência do ser.
Sentir o fumo em meus pulmões.
A calma falsa da nicotina.
E a falta… com comichões.
Cigarros fumo durante a espera
Espera que marca minha vida.
A espera que desespera…
No desespero sem saída.
Hoje não vai haver rimas.
Cansado estou da elegância e do primor, com que me tento exprimir.
No entanto, hoje não tenho paciência para isso, quero bater com a cabeça na parede, até um de nós desistir.
Não me sinto nem melhor nem pior do que é normal em mim…
Simplesmente não quero rimas, nem versos, nem metáforas.
Quero ser cru, duro, sem disfarçar nada.
Quero pegar no martelo em vez de pegar na caneta…
E destruir…
Falar directamente comigo, insultar-me.
Não estou louco… no fundo, quem me dera estar.
Assim tinha desculpa… para fazer tudo, dizer tudo… que ninguém me ia importunar.
Pois, eu, era doidinho… Coitadinho!
Sei lá bem, se no fundo a loucura não é uma bênção ao invés de uma maldição.
Mas adiante…
Já me perdi, esqueci-me do que ia dizer a mim mesmo.
Tinha um sermão preparado, mas esqueci-me dele. Porra!
Ultimamente isto tem me vindo a acontecer… lembro o passado esquecendo-me do imediato… e ficam coisas por fazer.
Ou então o esquecimento não passa de uma desculpa maltrapilha, para a falta de vontade e preguiça onde oscila meu ser.
Já lá estou a chegar… (ao sermão que elaborei).
Era aqui que eu queria chegar… a este preciso e exacto ponto.
Ponto este, onde me desencontro, e me questiono.
Divagando no colossal universo que minha mente abrange.
Nesta demanda desmedida pelo auto-conhecimento, e até mesmo pelo sentido da vida.
No entretanto, já me cansei…
E respostas… (para variar) não descobri.
Cesso o movimento de minhas mãos sobre o teclado desta maquina escrevendo:
FIM
Não dá prazer algum
Acelerar por essas amplas auto-estradas.
Que levam a lugar nenhum,
Em viagens enfadadas.
Devorar curvas, numa estrada nacional,
Separado do abismo, por um raide enferrujado.
Isso sim! É um pouco irracional…
É de loucos, é arrojado.
Se prime o acelerador em estreitas vias.
Carregadas de perigos incertos.
Sinuosidades cheias de teimosias
Por novos caminhos descobertos.
Era fácil, seguir em frente…
Na pejada auto-estrada.
Mas para mim… eu que sou diferente
Prefiro seguir a estrada esburacada.
Não quero uma coroa de louros.
Quero uma coroa de espinhos.
Quero uma coroa dilacerante,
Igual á do falso salvador.
De espinhos afiados… cortante,
Obra-prima, para criar dor.
Nada marca mais o ser humano,
Que um agonizante sofrimento.
Nada lhe inflige mais dano,
Que a voz do seu próprio lamento.
Por isso, venha a mim o flagelo
A massacrante violência.
Ao qual faço apelo
Para exumar, minha existência.
Quero ser coroado de espinhos, de espinhos contundentes.
Castigado, torturado, por uma nova agonia.
Não me dêem louros, minhas gentes.
Louros não se dão, por simpatia.
Quem esta errado?
Serei eu? Serão os outros?
Minhas ideias diferem
Da razão pelos outros dada.
Meus ideais ferem
Quem corre em debandada.
Não me sinto portador
De uma verdade absoluta,
Considero-me um pensador
De uma força resoluta.
Com este olhar interrogo
Toda, e qualquer existência.
Não sou falso. Não rogo…
Para os outros, minha experiencia.
Eles teimam em me contrariar…
Escarnecendo minha opinião.
Levando minha cabeça a pensar:
Se os outros não têm razão.
Talvez eles estejam acertados
E eu… completamente errado.
Meus sonhos, nada são… estão destroçados.
Enquanto penso: - não posso estar enganado.
Pois eles… já tantas verdades inventaram…
Tantas falsas convicções conseguiram criar
Que em mim, duvidas provocaram
Em meu mundo… em meu pensar.
Eles… os outros não têm razão!
Eles… os outros estão errados!
Neste palco montado…
Desempenho o papel que me foi imputado.
Ranjo os dentes, em meu púlpito… amedrontado.
Balbuciando gritos, em meu interior revoltado,
Cai sobre mim, o meu querer estagnado,
De uma força imensa, que me mantêm sitiado.
E, oscilo meus braços de forma vigorosa
Me digladiando contra a besta venenosa.
Resultado de minha existência asquerosa
Que me punge, de cortes de uma rapidez vagarosa.
Acto após acto… berro falas de meu guião.
Insulto a vida, a morte, a multidão.
Descarrego em gritos avulsos o que me vai no coração
Perdendo até por vezes toda e qualquer razão.
No entanto, cismo em minha conversação…
Difamo, enxovalho o mundo em toda á sua dimensão.
E perguntas-me, o porque de minha razão de ser…
Viro costas… nem eu próprio me consigo entender.
E a resposta, que queres ouvir, não é a que vais ter.
Muda-se o cenário, mas não o actor…
Muda-se o elenco, mas não a dor.
Caem os sonhos… se perde o fulgor
Mantêm-se os devaneios, num caos fustigador.
Se tudo tem um sentido…
Uma fórmula… uma razão.
Porque me sinto eu perdido?
Rejubilando frustração.
Vejo o mundo…
No seu benévolo, funcionamento
E em meu fundo…
Me contraio, em lamento.
Tudo é tão inútil…
Tão vão e fútil.
Será de mim?
De meus olhos?
Destes olhos, que irremediavelmente,
Só vêem a tristeza a tudo inerente.
Deste meu olhar?
Que se desfoca, em tua ausência
Fazendo do mundo um castigo sem indulgência.
É inútil tudo.
É inútil, o nascer do dia.
É inútil, a noite sombria.
É inútil, eu sonhar…
Inútil é desejar.
É inútil este viver…
Tudo é inútil se não te posso ver.
Tudo ganha tamanha inutilidade
No desespero do teu não estar.
É mais que uma fatalidade,
O não te poder abraçar.
Divago dentro de mim…
Escutando meus próprios pensamentos.
Lembrando que tudo tem um fim,
Até mesmo os lamentos.
Na descrença que me assola,
E que meu corpo vai corroendo.
Esta ideia que me esfola…
Luto, batalho, combatendo.
Combatendo a ira que me consome.
A mim pobre ser…
Que já mal dorme…
E se limita a sobreviver.
Em minha própria decadência
Me vou extenuando.
Longe de mim pedir clemência,
Mesmo a miséria fitando.
E tudo o resto não me importa
Não faz para mim, nenhum sentido.
Apenas se fere minha aorta
Por nunca ser compreendido.
Depois de batalhas colossais
Batalhadas em mim mesmo.
Abençoadas Valquírias que me levais.
Seres reais, de enorme valor
Antídotos naturais para meu terror.
Combateis com vossa sabedoria
Minha calamitosa agonia.
A vós, imenso devo.
Nem sei se será possível vos pagar,
Ou vos dar o devido valor.
Em metáforas simples, tento vos exaltar…
E demonstrar todo o meu louvor.
Que minhas palavras não as leve o vento…
Pois elas são muito mais que um ornamento.
Demonstrações genuínas de minha gratidão,
Que por mim jamais são ditas ou escritas em vão.
Podeis no fundo nem perceber,
O que tento neste poema dizer.
Mas nasceu dentro de meu ser,
A obrigação de vos agradecer.
Somos escravos das futilidades
Dos valores materiais.
Ligamos a nulidades,
Louvando taras imorais.
Caminhamos sem rumo,
Sem ao importante ligar.
Espécie sem prumo…
Num constante definhar.
Devíamos encontrar em nós
Um apanágio aos sentimentos
Para não cairmos sós,
Numa tundra de lamentos.
Realçar em nossos seres
O valor dado a quem amamos
Perpetuando enalteceres
E em graças… não tombamos.
E as efémeras razões
Que erradamente julgamos ter
Se esvanecem em turbilhões
Perto do fim… do perecer.
Essa palavra de valor indiscutível,
De significado inconfundível.
De tanto valor incompreendido,
Motivo de tanto de ser perdido.
A mente humana, cede ao seu querer,
Encontrando em si, novas formas de se perder.
Subjuga nossa vontade e nosso pensamento,
Nos encosta ao canto, em melosos espasmos de falso lamento.
Pensamos ser racionais, quando este nos rouba a razão,
Deixamos de ser lógicos… rendidos a sua submissão.
E nos confins de nosso ser existencial…
Ambicionamos ser possuídos de forma total
Por este intemporal sentimento…
Criador, máximo, de toda a alegria e de todo o sofrimento.
Desejamos a sua presença em nossos corações…
Nos arrebatamos ao sabor das suas quiméricas ilusões.
Olha para mim, quando te digo:
A mim, já não me pertencer.
Já não sou dono de mim,
Nem de meu corpo, ou de minha mente.
Mesmo os meus sonhos…
Os dei, sem presente.
Me alegro, e fico contente…
Por a mim não me pertencer.
Agora fica latente,
Que doei meu ser.
Nada me deram por ele…
Nada queria por ele.
Agora corre livre, e despreocupado…
Sem ser eu, deixou de ser torturado.
Vive como qualquer, outro ser…
Escravizado pela ilusão do viver.
Sepultou as inquestionáveis questões,
Que eu… e só eu teimava fazer.
Se deixou conquistar pelas razões,
Que eu nunca quis, obter.