Porque ousas amar? -meu triste coração.
Porque teimas em amar? Sabendo que o amor é a perca da razão.
Tu, meu coração que amas tanto…
Não vês que o amor não é mais que pranto?
Meu coração ridículo e obtuso…
Ouve-me a mim: -O amor… o amor é confuso.
(Para não usar palavras… mais… massacrantes,
Mais próximas e certas que estas que são errantes.)
Digo-te, a ti meu pobre coração. -Que amar, é somente solidão.
Que esse sentimento para ti nobre, é apenas maldição.
Mas tu, meu triste e apaixonado órgão cardíaco,
Vês mais no mundo, que eu… um pobre maníaco.
Vês a condição quimérica de amar…
Vês no amor, uma causa pela qual altercar.
E és mais do que eu… muito mais que eu.
És tu, o combatente, que nunca se rendeu.
Que se ergue, engrandece e luta…
Defendo que amar, é mais que uma disputa.
E não finges ser um falso crente…
Crês que amar, é o melhor que existe em toda a gente.
Crês que amar, é o maior de todos os sentimentos,
Maior que todas as frustrações, dores, e lamentos.
E se tu pulsas em mim… ó meu poeta coração…
Talvez… no fundo seja também eu, discípulo de tua condição.
Irremediavelmente me vejo aqui deitado,
Á luz de um candeeiro apagado…
No centro de meu universo, resignado.
Caio em mim mesmo, consternado.
Queria em mim a força e a vontade…
Desejo profundamente ser vendado com a verdade.
Descobrir um outro mundo, que me trouxesse variedade.
E desfazer-me dos caprichos de minha nulidade.
Cansado de estar deitado, escrevi este verso…
Depois li-o, e nele não vi qualquer nexo.
É um amontoado de ideias e loucuras…
Tal como é minha vida, despida de formosuras.
Tal como é o mundo e os dias… e as ruas escuras.
Tal como é a trama de minhas amarguras.
Aos poucos e poucos, vejo-me a ser engolido
Pela dissonância, dissonante que me têm perseguido.
Por estas vozes que ouço… sem ser ao ouvido.
E que me gritam bem alto: - ESTAS FODIDO!
Mas as vozes que ouço, não são loucura, são o pensamento.
São aquela parte de mim, que fugiu de mim, e do tormento.
É com este pensar semelhante ao de um doente mental
Que escrevo em linhas, e neste papel informal…
Que tudo é um gigantesco tédio monumental.
E que a vida, e o mundo me querem tão mal.
Corre novamente sem destino
Ó criança que outrora fui eu.
Pula, salta livremente em desatino…
Que a criança que fui, morreu.
Sinto saudades da inocência,
De meu desobediente sonhar.
Da incoerente, incoerência…
Que dominava meu pensar.
Saudades dos dias intermináveis,
Que fatalmente tiveram de passar.
Se tornaram em dias intragáveis…
Que agora, não consigo suportar.
E mesmo sendo novo, estou envelhecido.
Estou exausto, cansado… vencido.
O passar da curta vida, cansou-me.
E já não me iludo, na crença…
Sem me debater, dou-me…
Deixo que a miséria me vença.
Mas tu… criança alheia…
Que um dia fui eu…
Não te deixes prender na teia,
No enredo, que o destino teceu.
Quem olha para mim não é capaz de perceber,
Que em meu interior se esconde um sofrer…
Um sofrer colossal, um doer gigantesco.
Sem o entender eu próprio, sei que é grotesco.
Não quero mais, esta dor pejada em mim.
Não quero mais sofrer… mas enfim…
Sinto não haver solução…
Para a profana dor que me destrói o coração.
Se em tempos houve luz…
Me vejo agora crucificado em minha cruz.
Da alegria, que a dor em mim, combatia…
Resta a lembrança, e o que eu sentia.
Não quero mais…
Esta dor, dentro do que eu sou.
Quero de novo a alegria que me abandonou.
Queria escrever sobre flores, e alegria…
Mas não são estas que marcam o meu dia.
Não são estas que me fustigam.
Não são flores e alegrias que me castigam.
Perpétua é a dor, perpétuo é o sofrimento.
Que escrevo. O que me inspira… é o lamento.
E nada mais resta em mim.
A não ser uma tristeza sem fim.
Por momentos até consigo rir…
Ponho a mascara e escondo o que me está a destruir.
Mas na solidão de meu pensar…
Só dor existe… sem cessar.
E não há flores ou alegria.
Nada resiste… só melancolia.
Só este peso, em mim acorrentado,
Só este sentir condenado.
Ab-rogou em mim, qualquer contentamento,
Rejubila em mim o tormento.
Se engrandece a infelicidade…
Flores, alegrias… são irrealidade.
Já nem o patíbulo tem a corda…
E o laço jaz desfeito.
Já nem o coração bate á borda,
De meu cavernoso peito.
Nada resta…
Nem alegrias, nem satisfações…
Se perderam por ai…
Na calma vaga, de minhas ilusões.
Sim…porque nada resta.
E da esperança…
Somente persiste a lembrança.
E á bonança…
Jamais meu ser alcança.
Tudo esta perdido…
Tudo se perdeu…
Segredo-te ao ouvido,
Que o fim, aconteceu.
O outrora céu azul, brilhante…
O vejo agora de negro pintado.
Marcado de uma dor crepitante,
Faz companhia a meu ser despedaçado.
E nada resta…
SOFRIMENTO
Me tem marcado a vida inteira
Se tem mostrado, presente…
Sempre a minha beira,
Me mantendo descontente.
AMIZADE
Ancora de meus devaneios,
A força intemporal.
Escudo de meus receios,
A integridade existencial.
RAZÃO
A minha busca infindável
Um acréscimo á loucura.
Minha cisma irrefutável…
Da crescente amargura.
FAMÍLIA
Meu grande socorro.
Fonte de meu senso…
Por vós, mil vezes morro.
Em vós, amor condenso.
INCOMPREENSÃO
O meu, não entendimento,
Do mundo, da gente…
E de tudo mais que traz o vento,
A este momento presente.
LOUCURA
Não diagnosticada…
Mas podem crer, que real.
Faz de mim criatura imoderada…
Me faz bater tão mal.
DESCRENÇA
Não creio em mim…
E em pouco creio…
Uma descrença sem fim.
No calamitoso receio.
PAIXÃO
A força que me transfigura…
Razão de minha alegria,
Razão de minha tortura,
Espasmos de melancolia.
POESIA
Meu escape avulso
Á dolorosa realidade…
Meu acto de repulso,
Onde me perco com vontade.
FRUSTRAÇÃO
O querer…
O ambicionar…
O nada ter…
O nada alcançar.
CANSAÇO
Constante e fustigador
Resultante de minha podridão.
De tudo causador…
Nos passos que dou, em vão.
APATIA
Marca minha vida…
E toda a imperfeição do meu ser.
É a única saída…
Em que acabo por adormecer.
SOLIDÃO
A mais massacrante
De todas as penas.
A mais beligerante
Das quarentenas.
Sentado nesta cadeira
Onde me crispo e cogito.
Onde por brincadeira,
Escrevo aquilo, em que reflicto.
Fosse eu, alguma coisa…
Ou se coisa alguma fosse eu…
Todas as palavras escritas
Por minha triste figura,
Teriam algum valor.
Mas por mim ditas,
No meio da amargura,
Que são escritas por este autor.
Fosse eu, alguma coisa…
Algo mais, que esta modesta criatura.
Algo mais próximo do génio, do que do louco.
Algo mais belo que esta caricatura…
Algo mais… só mais um pouco.
Mas sendo, o nada que sou,
Escrevo líricas devaneadas.
Contado o que este ser amou,
E as ideias por ele pensadas.
Fosse eu, alguma coisa…
E não estaria aqui sentado…
Lamentando minha nulidade.
Não estaria aqui sentado…
Não estaria aqui sentado…
Não há finais felizes.
E se os há, não são para mim.
Nunca acreditei que a vida era bela,
Mas presumia que não fosse tão ruim.
Vejo-me aqui sentado, sozinho
De mãos dadas com este doer medonho,
Na angústia em que alinho.
Rezando preces, a um deus tristonho.
Nos contos de encantar…
Contados repetidamente,
Há pessoas a chorar…
A chorar, de tão contente.
E em meu rosto…
Também há lágrimas. Resplandecentes…
Indícios de meu desgosto,
E não, de alegrias vigentes.
Não há finais felizes…
Não pode haver!
E se os há…
Que fiz eu de tão errado para não os merecer?
Estou desapontado com tudo isto…
Com o que é minha vida, com o que sou.
Com o que ouvi, com o que tenho visto.
Com todo nada que o mundo me doou.
De hoje em diante, não acredito
Em finais felizes…
Me espumo, e grito…
No pesar de minhas cicatrizes.
Um voltar atrás
Corrigir o arrependimento…
Regressar ao passado,
Consertar aquele momento.
Queria esse poder em minhas mãos,
O poder carregar num botão
Desfazer todos os meus erros vãos.
Dos quais sinto tamanha decepção.
Meus actos efémeros, estrambólicos
Que a mim me trouxeram arrependimento
Se parecem com seres diabólicos…
Que me engolem num vasto tormento.
Ai, se por momentos o passado,
Se torna-se no presente…
Meu erro seria consertado,
Toda a minha acção seria diferente.
A angústia de carregar este espinho
Dentro de meu verme ser.
Me faz perder sozinho,
Lamentando, o que fui fazer.
Que feliz era eu…
Se não pudesse pensar
Realmente feliz era eu…
Se meu cérebro parasse de trabalhar.
Porque não cair num buraco sombrio?
Abraçar a solidão, e o vazio, e o oco…
Não seria pior do que uivo…do que pio
Que ecoa em meu cérebro louco.
Teria paz… minha efémera consciência
Seria um céu, para minha inútil existência.
Mostraria o mundo a mim clemência
E as magoas se afundariam em decadência.
Quero estar comatoso
Desligado do pensamento.
De meu pensar tumultuoso
Afastar o sofrimento.
Sou um gigante de merda feito
Um ser tão perfeito…
Tudo o quanto sou
Em imundície se tornou,
Quando minha voz falou…
Quanto minha mão tocou.
Sou um colossal ser
Que nada é…
Em meu olhar estampado
Se esconde a miséria do que sou
Um tresmalhado…
Que por aqui se deitou.
Um louco alimentado…
Pela loucura que o imanou.
Um ser que é tão pouco
Que em gigante de merda se tornou.
Sem rodeios, ou penas de minha existência
Sem ser mentiroso como a pobre humanidade
Faço da merda que sou ciência,
Não buscando solidariedade.
Não há lamúrias, nem brandas sentenças…
Sou crente de minhas crenças…
No avenço de minhas desavenças…
Não sou coitadinho…
Não pensem que o sou.
Mas já ando fartinho…
Do que o mundo me tirou.
Me tirou? Não…
Que nunca me deu.
Me deu frustração
E sempre me fodeu.
Deve ter um gosto especial…
Em me foder…
Em me tratar mal…
No meu sofrer.
Desde puto que assim foi,
E eu bem que tenho reclamado.
Deve pensar que não dói…
Sempre ser eu o enrabado.
Devo ter escrito na testa
Algo de muito estranho,
Porque o mundo me detesta…
Com tanta força e de maior tamanho.
Não pensem que isto é brincadeira,
Ou uma palhaçada…
É a verdade verdadeira,
Sem ser atenuada.
É a minha reclamação
Sem tirar nem por…
Um grito de frustração
Um espelho de minha dor.
É gélida a pedra tumular
Que guarda meu buraco.
Se contrai e anseia,
Por esse meu corpo fraco.
Espera por mim…
Na espera de me velar,
Deseja o meu fim,
Para me poder amparar.
E luto, sem receio.
Por a vontade não lhe fazer
Mas falta em mim o meio
E a força para a vencer.
Todos nos… sem excepção
Estamos destinados a morrer
Mas lutamos em vão…
Pelo que é mais certo acontecer.
Sou um temente da morte
Da dor, do sofrimento
E da má sorte…
Mas se esgota em mim o alento,
Cai por terra meu forte.
Pensei conhecer o sofrimento…
Em todo o seu esplendor.
Mas agora, neste momento…
Percebi o real significado da palavra dor.
Tenho meu corpo desfeito.
De minha alma, restam pedaços
Um carcinoma em meu peito.
O peso de tudo em meus braços.
Tenho mais tristeza em mim,
Do que um ser pode suportar…
Anseio por um fim…
Por um evaporar…
Minhas lágrimas são ácidas correntes
Do sofrimento que ocupa meu ser…
Me trilham impudentes
Desgovernando meu viver.
Não há luz… apenas escuridão.
Nada… me consola.
Nada me exorta o coração.
A dor me esfola…
Pondo a nu toda a minha putrefacção.
O que se segue… é minha descrição,
Um retrato de mim mesmo…
De meu corpo, ser, e razão.
Olhando ao espelho, onde me vejo,
Vislumbro o corpo atarracado.
E a alma, de um maior desejo…
De um ser inacabado.
Minha fachada…
De fachada, nada tem.
Fronte, marcada
Pela qual mostro desdém.
Sou o estilhaço,
Do que um dia, sonhei ser.
Um triste palhaço.
É o que consigo ver.
Meu auto-retrato
É um quadro esborratado.
Louco sem trato,
Sem crenças, mas apaixonado.
E no fim da epopeia
De meu auto-conhecimento.
Me perco, na teia
Do que é todo o meu sofrimento.
Fica muito por dizer
Sobre aquele que vos apresento.
Esse exíguo ser…
Mergulhado em meu tormento.