Nasci… de forma natural…
Em dia de… vendaval.
Nasci… digamos que… enforcado,
Com o cordão umbilical ao pescoço enrolado.
E hoje, como sempre tento perceber,
Tudo aquilo que me rodeia
E protejo-me ao escrever….
Palavras que ninguém leia.
A noite segue, decorrendo lentamente…
O sono… ou algo semelhante,
Beijou-me á pouco levemente.
Á um pouco muito distante…
No avanço impetuoso da madrugada
Fustigo-me, autodestruindo o ser que sou.
Meu pensamento não leva a nada,
E quando o sol nascer, só meu corpo sobrou.
Perdoem ó gente que algo de bom vê em mim…
(Eu sempre o procurei, sem nunca o ter encontrado.)
Não sendo bruto, sei que não sou ruim.
Não me é permitido ter outro pensamento,
Dou de mim o quanto posso dar,
Sem ambição de qualquer pagamento.
Sim sou eu! Exemplar único…
Extravasando de meus defeitos…
E ocupado de tão insignificantes virtudes.
Inquietude nostálgica, de um outro ser que habitou no domínio que sou eu.
Presa num qualquer trecho de luz, perdida irremediavelmente num desconhecido de ausência forçada, no tumulto interno, inquieto da ambição contraditória, e incompreensível de nada desejar ser, se encontra a minha sombra…
A minha alma…
A outra coisa que não sou, ou que nem quero ser.
Ser humano perfeitamente normal, dentro da anormalidade inerente á normalidade humana, prospectando os dias e a vida, e a vida e os dias, na busca por algo superior, por algo maior… descobridor de mundos conhecidos, domador de feras afáveis, assim vejo a outra coisa que sou, sem ser a minha sombra…
Gozo a cru dos sentidos e dos sentimentos, sinto-os em mim, como ferros em brasa, usados por um qualquer torturador que inflige dor na busca por uma confissão…
E então confesso…!
Guia-me a percepção, (ou tentativa de tal) do nexo, do propósito, da razão, do sentido…
Tentativa vã, absolutamente falhada…
Dias sem sol, ou luz artificial, onde a sombra para sempre se escondeu, desaparecendo na realidade, abandonando o fantástico mas irreal império dos sonhos e das utopias.
Perdi minha sombra, minha alma, e nem atrás voltei para a procurar, não lhe estendi meu diminuto braço para a agarrar, e a queda e o desaparecimento deu-se como um acto inevitável, de consequências que suplantam, qualquer nexo, propósito, razão ou sentido… e eu, estou tal qual ela, perdido… tal qual ela, imaterializado, mesmo sendo composto de matéria. Mesmo tendo, e sendo humanidade… a antítese perfeita do que é (era) minha sombra…
O fim do mundo é hoje ou amanha…
Principio, do fim, dos tempos, inicio de todos os tormentos.
(Pensamento nocturno na madrugada vã,
E o armagedão em meus alheamentos.)
Premonições sem sentido o dão como certo.
Não há discordância, o mundo vai acabar…
Mas enquanto eu viver sobre este tecto…
Irei morrer e o mundo ira ficar.
E perdoem minha insolência…
Mas no caso rebuscado de tal acontecimento
Avisem com antecedência,
Para eu ser dono de meu definhamento.
Na hipotética hipótese de tal calamidade,
Rasguem os tratados e regras de boa educação…
- Rogo-vos, deixem de ser humanidade,
E festejem vossa extinção.
O mundo pode arder em chamas,
E a terra por si própria rebentar.
Que tu Homem, vais esquecer quem dizes que amas,
Na busca da salvação, que não te vai salvar.
A contagem decrescente há muito iniciada…
10— 9— 8— 7— 6— 5— 4— 3— 2— 1— ZERO
… Vácuo; vazio; escuro; negro… o fundo, de todos os fundos…
…NADA…
Deixa-me dormir e fingir que o sonho não acabou.
Deixa-me dormir e fingir que é real o sonho que meu ser sonhou.
O meu sonho, tem o teu riso,
O teu cheiro, o som da tua voz…
Têm tudo o que quero e preciso,
E por fim, em meu sonho, ficamos só nós.
Nunca o real, será um sonho meu…
Nunca a vida e o mundo me darão
Por presente o que o sonho me deu.
Fui feliz em meu sonho, obra, de meu subconsciente
Andei, corri, saltei, vivi…
E quando acordo… acordo doente.
Vendo que o real, não é o sonho que concebi.
Teimo na escrita, descritiva dos meus sonhos, sonhados
Talvez porque queira tanto a sua realização.
Mas sim, eu sei! Jamais serão realizados.
E todas as preces são em vão.
Envolto no silencio abstracto de minha consumada solidão,
Parto em renovada divagação…
Ateio fogos. Centelhas de luz, na minha razão…
Faróis, de cor berrante, de minha consternação.
Disponho-me sobre o sofá,
Contemplando a teia de aranha presa no candeeiro,
Talvez devesse “limpar” o candeeiro, e destruir a armadilha mortal executada
Pela aranha que nenhum mal me fez…
Não sentindo, a aranha não me ia levar mal, não me insultaria, não…
- Não interessa… não vou destruir a teia de aranha que por cima de mim caprichosamente ganhou forma.
- Vou deixa-la existir…
Existir, como eu, existo…
Por certo não me ia agradar a ideia de um outro ser, que pela simples razão de eu ser inferior a si, se levanta-se de seu cadeirão e me destruísse a armadilha que eu construí para me alimentar.
Todas as acções têm consequências, todos os nossos actos levam a algo…
As palavras ditas… as palavras que não foram ditas… cunham complexamente a existência de nós, seres…
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Esquecendo isso…
Mas só isso, porque não me é possível esquecer tudo…
Porque a memória é uma consequência das minhas acções, um lembrete que se acorrenta á complexa e incompreensível “razão” de meu ser…
Fazendo de mim o que sou, fazendo de ti, o que és para mim, fazendo de vós o que sois para mim, fazendo do mundo aquilo que não é para mim.
Se, por um acto de magia pura, as lembranças, as recordações, que tenho dentro de mim fossem de um outro alguém, existiria a possibilidade inequívoca de um recomeço, de um nascer de novo, de criar novas ambições e novos sonhos, para depois, e logo depois, os voltar de novo a perder. Para voltarem de novo a ser consequências de minhas acções, lembranças de meus sonhos não realizados…desmantelados… como as ruínas de algo grande… como prova irrefutável de nada…
Descolo em rodopio, para um outro lugar…
Que não este onde teimo em me deitar,
Disparo o projéctil, de meu divagar…
Na certeza macabra de ter de voltar.
Da divagação incoerente, faço meu reino… um reino onde tudo acabo por dissecar.
Estou agora a dissecar todos os sentimentos que tenho dentro de mim, toda esta angústia, toda esta dor, todo este amor…
Impávido e sereno, na divergência absoluta e resoluta do pensamento, encontrei-me perdido em tudo o que sinto…
A angústia e a dor, são de mim personificação,
E todo este amor…as vezes penso ser vão.
Mas tudo é vão…
Tudo é inutilmente, inútil… com a excepção é claro da teia de aranha, para a própria aranha.
Se eu ao menos tivesse a minha própria teia…
Como seres dotados de inteligência e de razão,
Inventamos forma de contabilizar o “tempo”.
De seccionar, dividir e limitar a sua imensidão.
… Contempla-mos relógios como passatempo.
O calendário por estes dias, dá o ano como terminado.
E sentado na cadeira faço minha retrospectiva,
Pensamentos deste ano que é passado,
Lembranças de mim, de meu ser… desta coisa viva.
Oscilei na corda bamba, disposta sobre o abismo…
Lutei por não cair… mas caí no vórtice de minha dor.
Me deixei ir e ficar, na compaixão bélica de meu fatalismo
Destruindo-me a mim mesmo, sem réstias de rancor.
Nos 365 dias que agora são nada mais que passado,
Senti frio e calor, alegria e amargura, ri e chorei…
E de todos os dias, há um por mim sempre lembrado,
Lembro-o com o remorso, de saber que errei.
E agora apressa-se a entrada de um novo ano,
Onde nada espero, onde nada ambiciono alcançar…
Sim, mais 365 dias contabilizados em dano…
E onde a corda bamba vai sempre oscilar…