Rebenta de uma vez…
Ou coisa deteriorada presa no meu pescoço.
Estoira com rapidez…
Implode sem fazer grande alvoroço.
Culpo-te de toda a minha tristeza,
Responsabilizo-te por todo este mal-estar.
Tens uma mania de grandeza,
Sê grande de vez! E espalha-te pelo ar…
Cabeça minha, composta de imperfeição,
Infeliz acaso de minha pobre genética,
Enceta um acto de rendição,
E revolta-te de forma patética,
Contra esta tirana condição.
E não faças apelos á demência,
Arde simplesmente na tua banalidade.
Não há actos de benevolência,
Para quem não é louco ou não tem genialidade.
Olho agora, para dentro de mim…
Vendo a dor pelos meus poros a escapar.
Encurvo o corpo em sofrimento,
Finjo que não dói… nada vai mudar.
A memória arrasta até mim, memórias
Os traços de meu rosto enrijem-se,
No descobrir de minhas ideias contraditórias,
E as vontades não tidas perdem-se.
E olho á minha volta,
Finjo não doer…
Subtraio a revolta,
Deixo meu corpo ir, e se perder.
Autoflagelo recorrente, e diário…
Corpo ferido, pensar fatalista,
A descrença marcada na minha cara de ótario,
A vida amaldiçoada de um pessimista.
Mas não te preocupes vida…
Eu finjo que não dói…
Não te apoquentes mundo…
Eu finjo que não dói…
E fingirei sempre não doer…
Ficarei para aqui sentado sem nada ter.
Vivendo de mim,
Alimentando-se do que sou.
Um ser ruim,
Que há muito me tomou.
O meu pior inimigo… sou, eu…
Carrego-me a mim mesmo, sem perdão…
Roubando de mim, o que é meu.
Culpado de ser eu, ser eu, um ladrão.
Contra mim prevarico,
Sem mostrar pena de minha consciência.
De tudo o quanto sou abdico,
Em mais um acto de extrema decadência.
Não me tomo por louco…
Antes fosse esse o caso,
De mim já resta pouco,
Bem como do poema onde me arraso.