Terça-feira, 31 de Julho de 2012
Poderia citar o genial poeta, dizendo: “não sou nada… nunca serei nada…”
Mas não haveria qualquer novidade em escrever isso.
Mas assim me sinto, sendo nada…
E minha vida, e minhas mãos transbordam desse mesmo nada…
Em conclusão, podemos concluir que a inexistência faz parte de minha existência, e é impossível encontrar outra forma de pensar.
Ainda ontem vertia lágrimas, e elas eram revestidas a sofrimento, e o sofrimento trazia consigo tristeza, e a tristeza… não trazia consigo mais nada, a não ser tristeza.
Caio em mim…
Que adianta, me lamentar?
Que diferença faz dizer que estou triste?
O mundo não vai parar de girar por esse motivo, ninguém, vai fingir sequer, que isso lhe importa.
Estou cansado… realmente cansado, de tudo isto, e disto tudo.
Embutiu-se em mim, uma grande dor, uma incompreensão gigantesca, um duvidar de tudo… e isso doí-me lacera-me por completo o ser.
Ponho em causa tudo, o mar, a terra, o céu, a merda do universo inteiro…
E abato-me no sofá, e tento dormir.
Não há sono, somente uma inquietude de pensamento, que me consome por dentro, um sufoco desmesurado, que me aperta a garganta com a força de mil seres monstruosos.
Estão distantes… (tão distantes) os sonhos…
E o fado, de ser não fadado a nada penetra-me pela testa como uma bala, de um tiro saído pela culatra.
O complexo labiríntico de minha forma ser engana-me iludindo-me, fazendo-me perder em romarias sem rumo, ao encontro do desencontro onde me encontro.
Leio Pessoa, e sinto-me um animal…
Segunda-feira, 9 de Julho de 2012
O homem, o soberano, senhor de tudo…
Tomou como cruzada destruir o “amor”.
Planificou, pediu estudo…
Havia de aniquilar tamanho estupor.
Mandou um ferreiro, derrete-lo…
Este… acendeu a fogueira,
E atirou para lá o sentimento…
Mas nem uma abrasão ligeira,
Se viu, por qualquer instante ou momento.
Enfurecido, “o homem”… convocou o seu exército.
De armas em punho, desferiram sua investida.
Caíram bombas, voaram rajadas de metralhadora.
Mas no “amor”, nem única ferida,
Nem marca sequer, de tal acção tão devastadora.
Irado de tal maneira, “o homem”… exigiu a presença dos mais ilustres cientistas.
Contra o “amor”, não tinham nada…
E pouco eles podiam fazer…
Mas sua cabeça estava ameaçada.
Porem nem ciência o amor consegue entender.
Não deixaram de tentar.
E contra ele, mandaram a pior poção,
Foi vã, a tentativa do aniquilar
E suas cabeças rolaram pelo chão.
“o homem” viu-se então em desespero, não tinha forma de o vencer…
O “amor” era agora triunfante,
E por todos, levado em braços.
Mas parou de rompante…
Olhou para Ela… e desfez-se e refez-se em estilhaços.
Ficamos sós, eu e a noite de sempre.
Num vazio imenso de luz acabada,
No silêncio supremo, de não se ouvir nada.
Tocamos as mãos como dois amantes,
Que se perderam na loucura do seu amor…
Fundimos nossos olhares distantes,
E deliramos em nosso próprio horror.
Harmonia perfeita por nós partilhada,
Enquanto eu,e a noite nos consolamos,
Não nos fingimos, pela madrugada…
E segredos, sem palavras, a nós conta-mos.
Perdemo-nos em naufrágios repentinos,
Admiramos as estrelas que teimam em brilhar.
Somos vitimas sem perdão de nossos desatinos,
Somos apenas a solidão a falar.
Lá fora, sopra o vento, sempre gelado.
Tenho a cabeça estragada, deteriorada.
Maldita noite amaldiçoada…
Sexta-feira, 6 de Julho de 2012
Porque o “nada” também é coisa…
Porque o “nada” também têm valor…
Porque o não ter “nada” é ter alguma coisa.
Escrevo um poema ao “nada” evocando o seu valor.
Abstracção absoluta…
Imensidão sublime de zero.
Estou vazio neste preciso momento.
Um enorme oco se apoderou de mim.
Não concebo qualquer pensamento,
Sou desabitado tal qual manequim.
E não me ocorre mais nada…
Absolutamente, mais NADA…
Quarta-feira, 4 de Julho de 2012
Morte aos artistas…!
Morte a todos eles!
Morte aos pintores, poetas e escritores… morte!
Morte ao actor, que se empoleira no palco…
Morte ao escultor, que dilacera a pedra… morte!
Morte a essa gente de pensamento livre,
Que só responde aos seus próprios ideais… morte!
Morte a esses loucos que ousam questionar,
A harmonia imperfeita e imaculada onde nos arrastamos… morte!
Morte a aqueles que vêm para além de tudo isto…
Que sentem mais do que isto… que vivem mais do que isto… morte!
Morte a quem canta, a quem pinta, a quem escreve, a quem dança,
A quem toca, a quem esculpe, morte… morte a todos eles.
Imbecis…
Queimem livros em fogueiras abstractas,
Derretam peliculas, negativos…
E nem molduras deixem intactas.
Acabem, exterminem com essa raça de seres pensativos.
Morte aos artistas…
Morte a todos eles!
Cortem-lhes a cabeça para não poderem pensar,
Estropiem-lhes as mãos, para que não possam escrever,
Arranquem-lhes os braços, para que lhes seja impossível tocar.
Mergulhem-lhes os corpos em ácido, até que tudo neles acabe por derreter.