Quarta-feira, 17 de Outubro de 2012
Os génios morreram, sem saberem que eram génios
Não lhes foram atribuídos em vida nem louvores, nem prémios.
E o seu modo de pensar era rotulado de decadente e demente.
Só a morte fez deles grande gente…
Por certo, a mim, nem a morte me fará gigante.
Nem meu obituário será glorificante…
A banalidade, o desinteressante que sou, permanecerá…
E ninguém de mim se lembrará, ninguém de mim, génio fará.
Assombra-me esta ideia, de tanta vulgaridade…
E vai-se tornado mais acutilante com o passar da idade.
Esta coisa que sou… é sincera, é aquilo que realmente sou.
Mas esta coisa… nunca a mim se perdoou.
Na escrita destes versos, sem valor…
Mas que minha teimosia alimenta com fervor.
Firmo em letras minhas ambições desventuradas,
De ser um poeta com provas dadas.
Mas não o sou… nem nunca o irei ser…
Sexta-feira, 12 de Outubro de 2012
Não te vou descrever como um país de navegadores…
Como um país de sofredores…
Como um país de extremas belezas, e esforçados lavradores…
Nem como um país saqueado por doutores…
Não vou falar da tua enobrecida história…
Nem relembrar que já foste um país de glória…
Não, não vou apelar á memória…
Mas também não vou entrar numa de ilusória.
Vejo-te agora perdido, como uma nau á deriva,
Sendo temonado por gente de uma pose altiva.
Que te emaranha numa tempestade destrutiva…
Em ordens dadas por uma europa corporativa.
Vejo-te como lacaio de um qualquer burguês,
Já nem és Portugal…Já nem és português…
Puta de luxo do interesse alemão, americano ou chinês.
Numa atitude de fraqueza, já nem em ti crês.
E quem te habita não se pode dar como inculpado,
Todos nós te levamos ao patíbulo do condenado.
Deixamos que fosses saqueado, abusado, estuprado…
Vítima de um mundo capital, e pouco civilizado.
Estás morto Portugal… ou mesmo á beira do fim…
Já nem á beira do mar és plantado jardim…
Amontoam-se coroas de rosas, lírios e jasmim…
E eu… sofro dentro de mim.
E se as vozes que ouço se calem-se de repente?
Se todo o meu mundo se altera-se num acto de magia…
Verias em mim uma feição sorridente?
Ou encontraria em mim nova agonia?
Erro crónico, aquele que cometo…
Depois de uma noite mal dormida,
Em que me vi, naquilo que prometo,
Acordo desolado, e com a mente dorida.
Vegetativo como me é tão habitual,
Arrasto-me para a frente deste papel.
Despejando aqui entulhos de moral
Com palavras que sabem a fel.
Concepções de perfeição acabo por fazer,
Na ânsia de desfazer minha imperfeição.
Teria de me refazer…
Para atingir tal condição.