Terça-feira, 27 de Novembro de 2012
Um pendulo…
Que balança eternamente
Que se brande em amplas oscilações
Que nem coisa, e não é gente,
Que se enreda em complexas complicações.
Não há melhor comparação
Com que me possa descrever.
Até renovada divagação,
É isto que me sinto, ser.
Estremunhado do meu tédio cativo,
Farto-me dele, e até de o amaldiçoar.
Mas torno-me esquivo
A quando de o abandonar.
Falho-me redondamente na minha procura…
Na procura de para tudo isto, um sentido.
E tudo, meu ser descura
E se oferece a estar perdido.
Um pendulo…
Descobri a cura!
Sim. É esta a cura, é esta a cura para o meu mal.
O anestésico era de rápida acção
E logo meu corpo se deu por inanimado.
Tudo apostos para a operação,
Até o doutor já esteva desinfectado.
A serra-craniana, bem aguçada,
Descrevia órbita em torno de meu contentor cerebral.
A enfermeira incomodada
Virava o olhar de encontro ao avental.
Adiantavam-se as horas, e eu ali estendido.
A equipa médica tinha operado sem cessar,
O procedimento ainda não concluído,
Teimava em se complicar.
Acordei depois, estremunhado, num acético
E branco, quarto de hospital…
Meu coração batia frenético…
Pensava eu ter saído triunfal.
Minutos depois, irrompeu pela divisória
Um ser de bata branca, e olhar enegrecido…
Vinha para me contar a história
De quão mal a operação tinha corrido.
Mas não era novidade o que ele vinha contar,
Por todo o meu ser, já eu me tinha sentido,
E o procedimento fora feito para isso mudar,
No entanto o meu eu, não tinha desaparecido.
Sexta-feira, 23 de Novembro de 2012
Torres altas que beijam o céu sideral,
Embutidas em si, perolas e safiras.
Portas envernizadas num castanho outonal,
Onde lá dentro, pajens fantasmas tocam liras.
O sol beija suas muralhas e ameias,
Onde pedras polidas se esgotam em resplandecência.
Á noite em si se acendem candeias,
Na evocação de renovada luminescência.
No alto de montanhas milenares,
Meus devolutos castelos marcam o horizonte.
Mas não há olhares
Que lhe vislumbrem a fronte.
……………………………………………….
Meus devolutos castelos erguidos,
Apenas para serem ofertados…
Ninguém os quis, mesmo que oferecidos.
E agora encontram-se desolados.
Quarta-feira, 21 de Novembro de 2012
O fumo…
O fumo das chaminés…
O fumo de todas as chaminés do mundo!
De todas essas chaminés que amarguram a paisagem e brotam de si: fumo…!
Fumo que polui os céus, fumo que nos entra pelas narinas, pelos ouvidos, pelos olhos, pela própria boca, e alcança o nosso cérebro… e o desfaz, o decompõe em miséria, em quase merda… ou merda mesmo…
O fumo das chaminés, que enegrecem um dia, já por si negro, uma vida só por si enegrecida… O fumo…
O fumo das chaminés… dessas chaminés que se acham superiores e altivas.
Mas se há fumo, não há fogo…
E tudo se dissipa, por entre ventos de tempestades furiosas, por entre os segundos e horas e dias em que o fogo extinto faz elevar aos céus o fumo que brota de chaminés, altivas, falsas e mentirosas.
Domingo, 11 de Novembro de 2012
Não me benzo, evocando vossos nomes.
Mas em mim, vos ergo catedrais.
Sois mais que meros seres…
Sois-me muito mais, do que julgais.
Não vos faço juras vãs…
Não vos posso dar o mundo.
Mas de mim, tudo vos dou…
A minha alma inteira a qualquer segundo.
Meu propósito de vida, neste instante…
Minha santa Trindade…
Por mais que vos ame, nunca julgo ser o bastante.
E só a vós peço perdão, por qualquer ofensa…
Por todos os meus erros, e minha forma de ser.
Só a vós, minha única e verdadeira crença.
Terça-feira, 6 de Novembro de 2012
Somente isto…
Um combate desleal.
Eu me desisto,
E me rendo ao real.
Aqui fico, persisto…
Em contracção cerebral.
Contra tudo invisto,
Num gesto teatral.
A vida em que não me alisto,
É minha doença terminal.
Só o Nada é previsto…
O sonho é agente de ser mortal.
Quinta-feira, 1 de Novembro de 2012
Atravessa-me a mente uma nitidez deturpada,
E uma conclusão inconclusiva,
Que tudo leva ao nada,
E que é este o único desígnio da vida.
Deformados são os sonhos,
Que me conquistam o subconsciente,
E eu, vitima sou de uma letargia transcendente,
Deitado no sofá.
Minha alma, que tão pequena é,
Acomoda-se na fresta deixada entre o meu corpo e as almofadas aveludadas,
E o corpo esmifrado de meu ser,
Imóvel permanece ao fustigar das facadas.
Não há expectativas, nem rotas de fuga…
Apaguem a luz!
Por favor apaguem a luz!
Hoje não quero ser incomodado,
Não quero ver o sol, não quero ver a rua, não quero nada…
Quero apenas a permanência neste limbo de tortura,
E esta doença sem cura.
Os grilhões que aqui me prendem, vão-se tornando mais fortes, e pelo que vejo, a cada dia passado existem mais razões para os deixar, me agrilhoar…
A luz permanece apagada, camuflando o vai e vem de berrantes pensamentos…
E o meu desejo maior era a vaporização de todos eles, e de meu pensar também…